sexta-feira, dezembro 29, 2006

Entrevista ao Ano 2006 - "É preciso muita dranquilidade"

Diário de Fictícias – Bom dia, senhor 2006!
2006 –
Diga? Vai ter que falar mais alto… Já estou muito velhinho e não tenho a genica de outros tempos…

DF – Queria falar consigo sobre a sua vida que, apesar de curta, foi muito conturbada…
2006 –
Sim, tem razão. Tenho de aproveitar ao máximo os 12 meses que tenho de vida e, frequentemente, faço aquilo que não devia. Mas, como diz o povo, a vida são 365 dias e o Carnaval são 366…

DF – Desculpe, mas está a fazer alguma confusão... “A vida são dois dias e o Carnaval são 3”. Esta é a citação correcta.
2006 –
Pois, mas disseram-me que aqui em Portugal o Carnaval é durante todo o ano… E eu próprio notei isso durante este período…

DF – Como assim? Viu muita gente a desfilar nas ruas ao som do samba?
2006 –
Neste país, o Carnaval é muito diferente do do Brasil, mas vi muitas palhaçadas. No que diz respeito à música, apesar de este ter sido o ano de Mozart, estava sempre a ouvir o Bailinho da Madeira.

DF – Gosta que lhe dêem música, portanto… Que balanço faz dos seus primeiros meses de vida?
2006 –
Bem, essencialmente, tentei continuar o trabalho do meu pai. Aqui em Portugal, as nossas gerações não são muito diferentes, até porque raramente há uma mudança significativa de mentalidade. Foi eleito um novo Presidente e, por coincidência ou não, arderam mais uns cavacos por este país.

DF – Este ano o país não poderia deixar de arder… Afinal houve quem tivesse festejado o dia da Besta…
2006 –
Desculpe mas eu não gosto que tratem assim as pessoas. Se não gosta daquele senhor do Norte, não tem que lhe chamar nomes…

DF – O dia da Besta foi no dia 6/6/6… Não é minha intenção criticar ninguém. Aliás, se precisasse de o fazer, acho que escreveria um livro…
2006 –
Ah, sim… Pensava que estava a falar de outra pessoa. Mas, já agora que fala em literatura, parece que surgiu uma publicação que tem sido o Sol deste fim de ano. Aliás, tem colocado muita gente à sombra e, por vezes, ao bater nos objectos dá-lhes uma cor dourada… Mas não me posso pronunciar sobre esse assunto… Ainda não li o livro. Só falo em tribunal e na presença do meu advogado.

DF – No que respeita a filmes, qual foi o seu preferido?
2006 –
Gostei bastante da adaptação a cinema do “Auto da Barca do Inferno”, do Senhor Gil Vicente, porque mistura vários géneros: desde o terror, passando pelo drama e acabando na comédia. Também gostei muito de um filme franco-italiano, em que, no final, o mau da fita dá uma cabeçada no inimigo.

DF – É inédito alguém entrevistar um ano, como eu estou a fazer, entrevistando-o a si. Talvez devêssemos entrar para o Guiness… O que acha?
2006 –
Tenha calma, é preciso ter muita “dranquilidade”, como diz o senhor Bento.

DF – Mas, normalmente, as palavras do Bento não são muito bem-vindas no mundo islâmico…
2006 –
Referia-me ao Paulo, o treinador dos leões!

DF – Ah, peço imensa desculpa! Acho que é das horas… Está a ficar tarde e temos de ir. Ainda tenho que ir fazer um doce para a noite de Natal.
2006 –
Talvez seja isso. Eu não gosto muito de açúcar, prefiro salgados…

DF – Como eu o compreendo… Gostei muito de ter falado consigo, foi muito amável para com o Diário de Fictícias.
2006 – Ora essa, o prazer foi meu. Brevemente virá a minha substituição. E certamente ninguém sairá para as ruas a protestar…

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Conto de Natal - Reis de Belém

O Diário de Fictícias, envolvido por este espírito que envolve todo o mundo cristão, mas, essencialmente, todo o mundo EUROpeu, decidiu acompanhar os Reis Magos e ir à Terra Natal entregar alguns presentes ao menino.

– Basta seguir aquela estrela – disse Belchior.
– Mas aquela estrela leva-nos até Sintra, e não a Belém, que é onde queremos ir – responde Baltazar.
– Ele tem razão, Belchior. Devemos antes guiarmo-nos pelo nosso GPS, e não fazer como aquele senhor que, apesar de gerir a empresa SGPS, não se soube orientar. E nós não queremos aparecer na lista de devedores ao fisco, pois não? Muito menos que as nossas companheiras publiquem um livro a incriminar-nos – diz Gaspar.
– Segundo o sistema, devemos ir por aquela rua – afirma Baltazar, apontando a direcção.
– Por aí vamos dar ao estádio de futebol onde também mora um Jesus, mas não é bem esse que queremos encontrar. – remata Belchior.

Assim começou a longa viagem que os três Reis Magos e a nossa equipa de reportagem fizeram até à Terra Prometida*. Chegados a Belém, deparámo-nos com um luxuoso palácio, protegido por guardas imponentes. Fizemos as apresentações, mostrámos os convites e, após terem verificado se nos encontrávamos bem vestidos (o essencial era ter o cinto bem apertado), os guardas que, apesar da noite escura se encontravam de óculos de sol, abriram a porta e entregaram-nos um cartão de consumo mínimo.

Algo incrédulos com aquela recepção, dirigimo-nos ao local onde se encontrava a família reunida, à volta de um cavaco em chamas que aquecia a casa.

– Boa noite, senhores! – disseram em coro os Reis Magos – Cada um de nós tem uma prenda para vos oferecer.
– Senhor José, para si tenho esta caixa de ferramentas. Como bom carpinteiro que é, espero que faça bom uso para tratar da Madeira. E, como sei que também tem dotes de jardinagem, ofereço-lhe estas rosas para plantar.
– Obrigado Belchior, agora é a minha vez de oferecer a minha prenda à “nova inquilina”. É uma caixinha com ouro, mas cá dentro tem um objecto que anda, literalmente, na boca de muita gente… Espero que faça melhor uso que os habituais utilizadores…
– Por último – continuou Gaspar – tenho este espremedor de laranjas para o senhor Silva. Devido às críticas de que tem sido alvo, acho que este é o presente ideal.

A família agradeceu calorosamente aos Reis Magos que, após terem cumprido o consumo mínimo através do pagamento de vários impostos, abandonaram o local sem a certeza de voltarem no próximo ano.

*Terra Prometida não no sentido de estar na agenda de aquisições de alguém mas sim porque é lá onde se fazem muitas promessas.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Entrevista à Saia da Carolina - "Sou saia de uma só pessoa"

Diário de Fictícias – Olhe desculpe… por favor… com licença… Olhe, saia da frente que eu estou a trabalhar!
Saia –
Eu até saía mas depois não tinha entrevistado...

DF – Ah, peço imensa desculpa, mas não reparei… Está muito diferente desde a última vez que a vi…
Saia –
Sim, a minha vida sofreu algumas alterações. E é por isso que convoquei esta conferência de imprensa, para mostrar ao país, e também ao mundo, que eu sou saia de uma só pessoa.

DF – Como assim? Sinceramente não estou a perceber…
Saia –
O meu nome, hoje em dia, anda na boca de toda a gente. Não vamos mais longe, há bocadinho você empurrou-me, “Saia da frente!”. Na televisão utilizam-me até ao esgotamento, coitadinha da Floribella. Para não dar outros exemplos! Mas eu, em exclusivo para o Diário de Fictícias, venho dizer, publicamente, que sou saia de uma só pessoa! E essa pessoa é a Carolina!

DF – A Carolina? Não estou a ver quem seja…
Saia –
Não sabe quem é a Carolina? Onde está a sua cultura literária e musical? Uma excelente dançarina como ela e não sabe… Sinceramente…

DF – Não me diga que está a falar “daquela” Carolina…
Saia –
Não se lembra da Carolina? “A saia da Carolina tem um lagarto pintado, sim Carolina ó i ó ai, não Carolina ó ai meu bem”. E a saia sou eu, mas não era verdadeiramente um lagarto que eu tinha pintado, era mais um camaleão, mudo facilmente de cor.

DF – Confundi com outra Carolina que, por acaso, também tinha um animal, mas fantasioso…
Saia –
Ah, estou a ver… Aliás, tinha dois: um pinto e um outro que cuspia muito fogo, mas parece que agora se anda a queimar. Enfim, quem brinca com o fogo queima-se, não é verdade?

DF – E o que tem a dizer da Rosa?
Saia –
Desde já lhe digo que não irei divulgar a minha preferência política! Tanto posso ser rosa, como laranja, azul ou até encarnada.

DF – Não é isso… Estou a falar da Rosa pessoa…
Saia –
Ah sim, a Rosa. Peço desculpa mas agora eu é que fiquei confusa. Já não bastava a Rosa que só me arredondava, arredondava… Todos os dias andava tonta, por essa razão é que decidi dar o direito de exclusividade à Carolina.

DF – Quais são os objectivos futuros?
Saia –
O meu maior desejo é ser reconhecida na rua como a saia que, não só tapou as pernas, como também os olhos de muita gente. O apito final ainda está longe, mas quando chegar a altura, espero fechar este ciclo com chave de ouro.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Fic Notícias - Cartas ao Pai Natal

Em todo o lado se ouvem os cânticos de Natal, as ruas vestem-se de cores vivas para chamar a atenção de quem nelas passeia e as luzes brilham fazendo das noites dias luminosos. As crianças, junto à lareira, pegam numa caneta e num pedaço de papel e escrevem os seus sonhos para enviar para o Senhor das Barbas Brancas. Mas não só as crianças o fazem, também muitos adultos, e alguns, bem conhecidos por todos nós.

Fátima Felgueiras:
“Oi cara, você me pode trazer o que quiser mas, em vez de ser num saco encarnado, preferia que as prendas viessem num saco azul.”

Floribella:
“Olá Pai Natalzinho! Eu queria que as crianças fossem muito felizes e que houvesse paz no mundo. Eu sou muito pobrezinha, super-hiper-mega-ri-pobrezinha e o meu principezinho não gosta de mim…”

Teixeira dos Santos:
“Vamos cá ver, o shôr Nicolau anda de país em país no seu trenó e não paga os seus impostos? Quanto às renas, tem licença para andar com elas? Venham daí esses euritos.”

Pinto da Costa:
“Estou a escreber-te esta carta para entregares algumas prendas a estes senhores de negro. Para mim não quero nada porque nunca me dei muito bem com indibíduos de bermelho. Penso eu de que….”

Papa Bento XVI:
“Eu gostava que me oferecesses um barrete igual ao teu. É que eu já dei um quando “declarei guerra” aos muçulmanos.”

Luís Filipe Vieira:
“Camarada Pai Natal! Como prenda queria um bom treinador. E, já agora, como grande benfiquista que o senhor é, vai-me comprar um kit de sócio do Glorioso. E as suas renas e os seus duendes também porque eu sei, e toda a gente sabe, que o Benfica é também o Maior do Mundo Imaginário.”

Poesia - Quadras de um País

Depois de semanas inquietas
Em que tudo se contestou
Decidimos fazer de poetas
E escrever o que se passou.

Os estudantes fecham a escola
Criticam a governação
Preferem jogar à bola
A ter aulas de substituição.

A temperatura está alterada
Balança entre o calor e o frio
Metade do país está alagada
Outra passeia no Rossio.

Há números que fazem sonhar
E outros que nem queremos ver
Os primeiros permitem viajar
E os últimos sobreviver.

E o nosso rico futebol
Segue o seu itinerário
Faça chuva ou faça sol
É comandado pelo empresário.

E para quem gosta de dançar
E fazer as coisas à sua maneira
Nada melhor que arranjar par
Para um bailinho da Madeira.

Tudo o que acima foi escrito
É o retrato desta Nação
Que deseja sempre o infinito
Mas nunca tira os pés do chão.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Alunos e professores unidos: “Queremos ir para casa estudar!”

São 8h30 da manhã. O dia está escuro e sopra um vento agreste que dá vida aos ramos das árvores e levanta as folhas espalhadas pelos passeios… Contudo, ao contrário do que se possa pensar, a rua está repleta de pessoas que, tremendo tanto como varas verdes, seguram cartazes e gritam palavras de ordem. A campainha toca pela primeira vez mas ninguém parece ouvir. Os portões estão fechados e a chuva bate constantemente nas placas de zinco que abrigam alguns professores.

Pela primeira vez em muitos anos, a escola vê todos os seus professores e alunos no seu recinto e em luta pelos mesmos ideais. É hora de ir para a aula, mas “mais importante que aprender é, seguramente, lutar pelos seus direitos e protestar contra a política vigente”, são estas as palavras de um professor que se manifesta neste dia chuvoso.

Entoando conhecidos gritos de guerra, adaptados à situação em que nos encontramos, professores e alunos unem-se numa só voz e gritam cada vez mais alto, ao verem que estão a ser filmados e entrevistados pelo Diário de Fictícias e outros meios de comunicação.

É neste ambiente de antítese com o tempo que se faz sentir que pedimos a opinião de alguns manifestantes:

“Epa, somos estudantes e não concordamos com as aulas de substituição porque se tivéssemos feriado íamos para casa estudar, pah!”
Estudante

“Eu não sei a razão do protesto mas acho muito bem porque assim não temos aulas.”
Estudante

“Estamos todos unidos contra esta política de discriminação e achamos que a senhora ministra deveria saber o que custa dar aulas das 9h às 16h, ter férias de 2 meses, e escolher o seu próprio horário que mudaria de opinião em relação a nós”
Professor

André Pereira

quinta-feira, novembro 16, 2006

Governo Fictício corta despesas - Proposta de Orçamento 2007

O Diário de Fictícias apresenta, em primeira-mão, a proposta orçamental do Governo Fictício para o ano de 2007. É de fonte segura que confirmamos este plano governamental, passando, desde já a invocar as principais áreas a serem atingidas:

Economia:

A Economia irá crescer de uma forma gradual, especialmente devido às bases em que se irá sustentar. Os passeios irregulares serão substituídos por bancos que, limadas algumas arestas, tornarão a subida mais segura e confortável.

Desporto:


No próximo ano prevê-se um aumento de agentes da polícia nos estádios de futebol. Isto porque Jorge Costa irá fazer parte da equipa técnica do Sporting de Braga e, após ter visto tantas vezes a cor vermelha em forma de cartão irá agora vesti-la. Até aqui tudo normal, não fosse o facto de o antigo jogador do FC Porto gostar muito de a ver na pele dos adversários.

Descendo até à capital, os trabalhadores do metro de Lisboa já puseram mãos à obra com vista a construir um Tonel que ligará Portugal ao Brasil. Esperemos que não seja mais um Canal da Mancha.

O Chefe de Estado já convocou uma reunião com o Presidente do SL Benfica com vista a assinar um pacto de união entre Nações. Se este encontro tiver os efeitos previstos pelo Governo, Portugal será, à semelhança do Benfica, o maior País do Mundo.

Sociedade:

Há uma nova esperança para os desempregados em Portugal. O Governo propõe um plano de migração para a Madeira, a fim de tratar dos jardins e dos pomares do arquipélago. A falta de jardineiros é uma realidade naquela região e as laranjas são cada vez menos nutritivas.

Ambiente:

O Governo aprovou um plano com a intenção de tratar os resíduos tóxicos em Portugal. A fábrica de Souselas foi a escolhida, mas o método será diferente. Uma reunião entre o Ministério do Ambiente e o Chefe dos Lixos Tóxicos fez com que se chegasse a um acordo mútuo: todos os lixos irão fazer greve e prometem não vir para a rua fazer manifestações. Assim, o caso ficará resolvido, pelo menos durante o próximo ano.

André Pereira

Diário de Vendas - 99% de Desconto*

Não se espantem os leitores com o título desta rubrica. O Diário de Fictícias não abandonou o mundo das letras para se dedicar ao comércio de qualquer outro produto. O único diário semanal optou por dar um passo rumo ao desconhecido, dedicando as próximas linhas à divulgação e recomendação de variados produtos que se podem tornar utensílios indispensáveis, tendo em conta a sociedade em que vivemos actualmente.

Graxa – Numa altura em que a aparência é mais importante do que a essência, nada melhor que ter sempre à mão (ou melhor, ao pé) uma pequena caixinha de graxa. Se a utilizar conforme está indicado no rótulo, poderá subir muitos degraus na carreira política. Isto porque os sapatos se tornam mais resistentes, pois claro…

Colete Salva-vidas – O mau tempo vai chegando e, com ele, outras inundações irão causar alguns danos. Mas, para evitar males maiores, nada melhor que ter bem colado ao corpo um colete que, para além de o proteger de outros perigos, impede que se afogue mais em dívidas. Muitos são aqueles que se vestem de gala mas esquecem-se que actualmente vivemos num Titanic moderno: mais tarde ou mais cedo iremos bater com um iceberg que nos chama à realidade e aí, será tarde demais.

Martelo – Qualquer cidadão responsável tem na sua garagem, junto de todas as outras ferramentas, um martelo que é essencial para construir, arranjar ou destruir, conforme a situação. É a ferramenta mais importante de qualquer carpinteiro, uma vez que trabalha com a madeira e, por vezes, é preciso uma boa martelada para ela amolecer. Basta de bichos da madeira!

Cartaz – Hoje em dia, mais importante que saber ensinar ou até mesmo aprender, é ter um cartaz com frases de ordem e insultuosas contra alguma coisa. Pode-se até nem saber do que se trata, mas é essencial ter um!

* Brevemente, será este o número percentual que iremos descontar para a Segurança Social

Entrevista à Lata - Lata Enlatada

Hoje o dia começou mais tarde para a maioria da população estudantil de Coimbra. Já o sol tinha dado lugar à lua quando as capas negras se levantaram para mais uma noite alegre.

O fuso horário já havia mudado, contudo, nestes dias de festa a Torre da Universidade congela os ponteiros, e o badalar dos sinos é substituído pelos ritmos ensurdecedores vindos do outro lado do rio.

Mas para conhecer verdadeiramente o que se passa na outra margem, nada melhor que dar a palavra à personagem principal deste autêntico filme nocturno.

Diário de Fictícias – Boa noite, Senhora Lata!
Lata –
Olha quem ele é… É preciso ter-me para vir falar comigo. Depois do que aconteceu entre nós…

DF – Desculpe, mas não estou a perceber. O que aconteceu?
Lata –
Não se lembra? Já me andou a arrastar pelas ruas de Coimbra…

DF – Sim, mas já lá vai o tempo. Falemos do que interessa. Como se sente nesta altura do ano, em que uma cidade vive para si?
Lata –
Sabe, já estou habituada a este protagonismo. Durante o ano, os estudantes preferem a garrafa e o copo, mas para começar nesta vida nada melhor que ter lata.

DF – Isso é verdade! É preciso coragem para ficar acordado horas e horas a fio durante a noite e no dia seguinte faltar às aulas…
Lata –
Faltar a quê? Eu sou a verdadeira universidade neste início de ano, e olhe que os meus alunos são assíduos e pontuais! Para além de não faltarem, esgotam em segundos as minhas salas de aula.

DF – Alguns clientes do seu espaço dizem que se sentem como sardinhas enlatadas quando assistem às suas aulas…
Lata –
É normal sentirem-se como sardinhas, não é por acaso que nos encontramos junto ao rio…

DF – Mas o Mondego parece não ser apenas uma fonte de sardinhas… Há rumores de alguns tubarões…
Lata –
Sim, confirmo esses boatos. E, como muita gente já reparou, tive de os colocar na entrada do recinto… Podem não ser muito comunicativos e até mesmo violentos para com as pessoas, mas não tinha outra opção. O mais que pude fazer foi convidar o cão do Mickey, um tigre e alguns GNR para ver se conseguem acalmar os ânimos.

DF – Mas no final é habito a festa acabar em xutos e pontapés… Bem, o nosso tempo está a chegar ao fim, mas ainda há uma última questão que lhe gostava de colocar… Qual é a sua ideia em relação ao estado do Ensino em Portugal?
Lata –
Eu acho que o ensino vai muito bem e a crise económica de que tanto se fala não tem tido repercussões na minha actividade. Antes pelo contrário, a cada ano que passa vou ganhando adeptos. Até já pensei em fazer uma OPA à UC.

Fic Notícias - À luz de um orçamento que representa o ensino

Neste período de crise que atravessamos, o Diário de Fictícias decidiu ouvir os lamentos das pessoas sobre aquilo que as preocupa. Guerra, desemprego, preço da gasolina, salários… Foram estes items que colocámos na nossa agenda mas, ao contrário do que esperávamos, saiu-nos tudo ao contrário…

Electricidade:
“Sinto-me no meio de um Guerra, aliás, de uma guerra entre os consumidores e aqueles que me controlam. Sinceramente, espero que o meu valor se amplie, até porque sou muito valiosa para todos! As pessoas, ao nascer, são-me oferecidas, eu sou essencial ao seu crescimento, gostam de ir ao meu estádio, não conseguem ler nem escrever sem a minha ajuda e, até ao morrerem, vêem-me ao fundo do túnel… Seria um ‘choque eléctrico’ se me perdessem.”

Orçamento:
“Muito bom dia, meus senhores! Ainda não estou autorizado oficialmente a falar, só para o ano, mas posso dizer que me sinto muito satisfeito com a dieta rigorosa que estou a programar fazer. Correm boatos que continuarei a abusar dos doces, mas não passa disso mesmo, verdades. Ah, desculpe, quer dizer, boatos!”

Rivoli:
“Gostei muito deste período de férias a que tive direito. Por outro lado, tudo o que foi noticiado dava para uma excelente peça de teatro… É algo a pensar. Sabe (olhando para todos os lados), por agora ainda posso falar consigo em público, mas daqui por uns tempos, se quiser combinar uma entrevista, só em privado.”

Declaração de Bolonha:
“Ainda sou muito novinha para poder criticar mas penso que mais novos são aqueles que me criticam. O desemprego não me aflige, até porque eu tenho dado muito trabalho, especialmente aos estudantes. Mas não há que preocupar, ninguém precisa de ficar com os olhos em bico. Até porque eu nem sei fazer arroz; o meu prato preferido é esparguete… à bolonhesa, pois claro!”

sexta-feira, outubro 20, 2006

Um Jogo Sustenido: Chopin ou Eusebio?

Não se trata de uma luta pelo título de figura mais importante da Europa. Se, por um lado, temos um dos melhores compositores musicais do século XIX, Frédéric Chopin, por outro encontramos um dos melhores jogadores de futebol… da Polónia!

É verdade, não se trata de Eusébio da Silva Ferreira mas sim de um outro que, embora com qualidades bastante diferentes das do “original”, é considerado por muitos como um dos melhores jogadores do seu país.

E assim, o verdadeiro “combate” trava-se entre o compositor de mazurcas e polonesas e o médio ofensivo que recentemente deu música a Portugal.

Até então, Chopin era o símbolo deste país do Velho Continente. Contudo, no dia 11 de Outubro de 2006, surgiu um novo ídolo para os polacos, Eusebio Smolarek.

Esta figura obteve enorme destaque após ter combatido bravamente contra a Nossa Senhora do Caravaggio que pretendia conquistar um dos quatro territórios que o seu comandante lhe pedira, acabando por derrotá-la com dois tiros à queima-roupa.

Nossa Senhora (certa do fim da crise que se abatera à sua volta) entrou demasiado benevolente no terreno, criando muitos espaços ao seu adversário. Este, não teve qualquer problema em controlar os 90 minutos, devido, em boa parte, à pouca valentia dos homens vestidos de negro.

O ambiente encontrava-se tão escuro como um nocturno de Chopin até que, vindo do nada, Eusebio escavou uma rocha bastante mole e atirou certeiro sem qualquer hipótese de fuga para a presa.

Prontamente, todos os santinhos se prontificaram a ajudar Nossa Senhora mas, apenas perto do final do encontro, um anjinho que não faz mal a ninguém, conseguiu atingir Smolarek com um difícil golpe certeiro.

Contudo, essa resposta não foi suficiente por duas razões muito simples: primeiro porque o resultado não se alterou até final e segundo porque o Nuninho (anjinho que reduziu a diferença) despenteou-se de tal forma que teve de ser transportado de urgência para o cabeleireiro mais próximo.

As reacções de ambas as partes fizeram-se notar. Smolarek foi aplaudido de pé e o seu País declarou-o como herói nacional; Caravaggio aceitou a derrota, e afirmou que estava a brincar quando disse que Portugal não estava em crise.

De realçar o apurado sentido de humor de um dos nossos representantes.

Afinal, estamos mesmo a passar por um mau momento…

E, é por isto mesmo, que agora se discute qual a música que os polacos mais gostam de ouvir, a de Chopin ou a de Eusebio.

sábado, outubro 14, 2006

Entrevista ao Ponto - "Sou indispensável a qualquer jornalista"

Diário de Fictícias – Ponto para começar? Aliás, pronto para começar esta entrevista?
Ponto –
Sim, pontíssimo! Prontíssimo.

DF – Como lhe expliquei ao telefone, esta nossa conversa irá basear-se no seu trajecto profissional e na sua opinião sobre a actualidade…
Ponto –
Ou seja, quer saber o meu ponto de vista em relação a determinados assuntos…

DF – Exactamente! Comecemos, então, pelo início auspicioso que teve nos palcos do Teatro.
Ponto –
Bons tempos… A princípio não queria enveredar por essa área, mas a pouco e pouco fui descobrindo a arte de representar. Claro que por vezes precisava de ajuda, mas tinha sempre o meu irmão que me apoiava nesses momentos. Foi um bom ponto de partida e uma base que me proporcionou uma outra visão sobre tudo.

DF – Em que aspecto alterou a sua forma de ver o mundo?
Ponto –
Alterou na medida em que alarguei o meu horizonte visual, adoptando pontos de vista diferentes. Sinto que muitas das pessoas encenam a sua própria vida, representando papéis que não são seus. E isso, por um lado, faz-me sentir revoltado mas, por outro, faz com que possa viver de uma forma mais consciente, pois sei os perigos que se me reservam.

DF – Para si, as pessoas são um perigo? Não tem esperança na construção de um mundo melhor?
Ponto –
Calma que eu não disse isso! Vamos cá pôr os pontos nos “is”… Eu era uma pessoa muito tímida e com muitos pontos de interrogação na minha cabeça. Depois do Teatro, já substituí os pontos de interrogação pelos pontos finais e até mesmo por alguns pontos de exclamação! (como este). Hoje, vivo uma vida feliz, com alguns casos pontuais de trabalho árduo, mas nada que me aborreça.

DF – Depois seguiu-se a Televisão…
Ponto –
Sim, o meu próximo amor foi a pequena caixinha mágica. Comecei por trabalhar como estagiário, mas lentamente fui obtendo algum prestígio, até que hoje sou indispensável a qualquer jornalista, especificamente os pivots do telejornal.

DF – Mas foi um amor, a princípio, um pouco atribulado…
Ponto –
(risos) No meu primeiro dia bati com a cabeça numa porta. Ainda levei uns pontos. Rezei a todos os santinhos e ao meu em especial, o Ponto Cruz, para que não me crescesse nenhum galo… Todos sabemos os problemas que os galos nos têm trazido.

DF – É verdade, sim senhor. Ora bem, deixe-me só consultar aqui o meu ponto de apoio, uma pergunta final: ultimamente têm surgido rumores de possíveis ligações com a corrupção desportiva…
Ponto –
Olhe, já viu as horas? Os ponteiros andam cada vez mais depressa. Desculpe mas vou ter que sair. Ainda tenho que ir ao Porto com dois amigos para depois viajar para junto da minha esposa que se encontra nos Açores…

André Pereira

sexta-feira, outubro 06, 2006

Fic Notícias - Palavras de Bento

O Diário de Fictícias foi para a rua descobrir o que pensam as pessoas acerca das mais recentes declarações do Papa Bento XVI, sobre o Islamismo, que causaram polémica na sociedade actual.

Rico de Azevedo:
“Opa, a minha opinião é muito simples: as pessoas ou aceitam ou não aceitam a leitura do Sumo Pontífice… Mas, opa, os islâmicos viram colocada em causa a sua autoridade de concorrência. PorTanto, entendo as críticas de que o papa tem sido alvo.”

Valentim Poleiro:
“O que é que o senhor quer? A mim ninguém me acusa de nada! Não fui eu, a culpa é deles! Ah, desculpe, não tinha entendido a questão… Eu acho muito estranho o Papa ter dito isso. Há aí qualquer coisa que não liga. Teve cá um galo!”

Sin Laden:
“Ali ba ba, ba ba bali… Ai, peço desculpa, estava aqui a cantarolar. Ora bem, essa é uma questão muito complexa porque vai contra a nossa ideologia. Mas como se diz aqui em Portugal (ai que eu não posso dizer onde estou!), quem semeia Bentos colhe tempestades, não é? Preparem-se!”

Cavado Silvas:
“Ouvi com muita atenção as declarações de Sua Santidade e penso que o melhor a fazer seria uma reunião entre ambas as partes, aqueles que estão mais à direita e os que estão mais à esquerda, se é que me faço entender. Muchas gracias.”

Bimbo da Costa:
“Quem é esse senhor? O único papa que conheço sou eu… Penso eu de que… Mas se é para deitar a baixo os mouros, acho muito bem.”

José Só Crates:
“A essência do problema é a questão da sociedade. E, nesse aspecto, Bento XVI ainda não conseguiu criar uma forte segurança social. As coisas deram para o torto e não se tornaram assim tão simplex como se pensou.”

Manuel Maria Sarilho:
“Tudo isto é uma farsa! Em primeiro lugar, a eleição deste Papa está rodeada de falsidade porque foi manipulada pelos meios de comunicação social. E agora, o feitiço vira-se contra o feiticeiro; são os media que divulgam uma ideia diferente da que Bento XVI queria transmitir.”

André Pereira

sábado, setembro 30, 2006

Conselho Fictício

Envolto neste ambiente de início de aulas, o Diário de Fictícias decidiu ajudar todos aqueles caloiros (coitados) que têm de fazer figuras menos próprias para obter um lugar de prestígio (?) por entre a comunidade estudante de Coimbra.

Desde percorrer as ruas da cidade cantando músicas do Quim Barreiros, a fazer declarações de amor às lindas donzelas, os aprendizes vivem momentos de eterna memória…

Uma vez que o Diário de Fictícias tem o nome de um caderno que guarda recordações, é, assim, o jornal indicado para ajudar esse pequeno passarinho a voar pelo céu de Coimbra!

Caloiro, podes rasgar esta parte do jornal e levá-la contigo no bolso sempre que fores chamado a declarar o teu amor à doutora:

Sentado espero inspiração
Para aquilo que vou dizer
E coloco os olhos no chão
Porque acabei de beber.

Não tenho lábia suficiente
Para ir ao “Levanta-te e Ri”
Mas espero que fique contente
Com aquilo que lhe escrevi.

Quando cheguei à cidade
Fiquei muito admirado
Pois notei que na Universidade
Ou se praxa ou se é praxado.

Não é uma questão de valor
Ou sequer de ambição
Desde que traje a rigor
O resto vem por arrastão.

Mas já me estou a desviar
Do que lhe quero transmitir
Tenho que me declarar
E não me posso distrair.

És a sereia no meu jardim
A água que passa no Mondego
A história que começa pelo fim
Os lábios que sussurram um segredo.

Gostava de ficar mais tempo
Mais uns minutos, mais uma hora
Mas palavras, leva-as o vento
E com ele me vou embora.

André Pereira

quinta-feira, setembro 21, 2006

Entrevista ao Novo Vizinho - "Sempre fui a estrela mais brilhante"

Estamos numa manhã de Setembro. As t-shirts e os calções reflectem a temperatura que se tem verificado durante este Verão e as buzinas dos automóveis confirmam a chegada de um novo período de trabalho.

As letras mantêm-se as mesmas e a sua disposição vai sendo alterada conforme a altura do dia. Tudo se encontra no seu local habitual, à excepção de um novo vizinho que chama a atenção de todos os outros…

Diário de Fictícias – Está um belo dia de sol… (diz, olhando pela vidraça). Assim, até apetece ser vendido e andar por aí a passear…
Novo Vizinho –
Bom dia! Por acaso está um dia bem agradável. E parece que vai continuar assim solarengo durante uns bons tempos…

DF – Pois, espero que sim… Mas, agora que estou a olhar para si, não o conheço, pois não? Não me recordo da sua cara, desculpe, da sua capa…
Novo Vizinho –
Pois não, eu sou novo aqui na papelaria. Cheguei hoje de manhã e arranjaram-me aqui este cantinho. Mas sinto-me muito cansado, a viagem foi longa e um pouco atribulada… Acho que ainda vou fechar os olhos antes de a porta abrir…

DF – Olhe que a papelaria entretanto abre. Talvez não valha a pena adormecer agora… Descansa logo à tarde, já que a viagem foi assim tão difícil…
Novo Vizinho –
Epá, não me diga isso. E eu que pensava que ia ter agora um tempinho para descansar. Sabe, vim de Lisboa, da capital, e, como tenho o carro avariado e o comboio é muito caro, decidi vir de autocarro expresso. A viagem não foi assim tão má, até vimos alguns filmes, contudo, a saída foi o que me custou mais, tropecei e ia caindo. Mas, felizmente, cheguei ao destino e agora é só trabalhar para ver se as coisas me correm bem.

DF – Decerto que irão correr. Sabe, o local onde se encontra foi, durante muitos anos, de um jornal muito independente. Fazia tudo sozinho, e raramente pedia alguma coisa emprestada. Quando chegou, a dona da papelaria entregou-lhe a chefia de todas as portas. Era um jornal muito acessível e com um sentido de humor único. Há dias, pediu a reforma e colocou um ponto final na sua carreira.
Novo Vizinho –
Sinto-me lisonjeado por estar neste lugar, tenho uma visão global da sala. Já reparei que tenho público a assistir sempre que queira discursar, tal e qual eu imaginava. De manhã entregam-me em mão o correio, à tarde faço um jogo de futebol, pego na bola e bato o record de golos do Eusébio! Tudo isto em 24 horas! Pena é só poder fazê-lo uma vez por semana… Já agora, a que horas é o despertar?

DF – Há um despertar semanal, às sextas-feiras, no início da manhã. Mas é só aqui na zona de Coimbra. Aproveito, então, para lhe apresentar outros dos seus colegas. À sua frente tem um jornal muito poupadinho, que só vê números à frente, chamamos-lhe o “económico”, está cá diariamente. À sua direita tem dois irmãos que só falam de notícias, o Jornal e o Diário. Lá ao fundo, na porta 666, mora um cujo nome nem me atrevo a dizer… Aquela zona é uma zona de muita criminalidade, como se pode ver pelo jornal ao lado. Depois, temos deste lado esquerdo a zona das revistas, a maioria cor-de-rosa.
Novo Vizinho –
Sim senhor, fiquei esclarecido em relação à minha vizinhança. Agora, só com o tempo é que se verá. Espero que daqui a três anos já esteja mais habituado a estas andanças e consiga dinheiro, pelo menos, para vir de táxi, já estou um bocadinho farto de andar de expresso.

DF – Olhe, as portas abriram-se. Vai começar o dia. Curioso, estamos aqui a falar há tanto tempo, e nem sequer sei o seu nome…
Novo Vizinho –
Nasço todos os dias sem nunca ter morrido, tenho uma clave só para mim, e, apesar de ser novo neste mundo sempre fui a estrela mais brilhante! Consegue adivinhar?

André Pereira

domingo, setembro 17, 2006

Entrevista ao Galo - "Estou na Barca do Inferno"

Diário de Fictícias – Sr. Galo? Sr. Galo?
Galo –
Quem me chama? (olhando para todos os lados). Ah, é você! O que faz aí em baixo? O que quer de mim?

DF – Gostava de lhe colocar umas questões sobre a sua vida aqui nesta capoeira…
Galo –
Não percebi muito bem o que disse. Vai ter que falar um pouco mais alto, sabe, tenho alguns problemas de audição…

DF – Assim seja. Nestas últimas semanas, tem estado nas primeiras páginas dos jornais. Tudo devido a uns problemas de um dos seus súbditos. Qual a sua opinião em relação a isso?
Galo –
Todos falam de mim e da minha capoeira, contudo nada de extraordinário se passou nestes últimos dias. Em relação ao problema de que fala, não é da minha responsabilidade mas sim da responsabilidade do meu patrão.

DF – Já o seu patrão diz o contrário, que a culpa é inteiramente sua. Diz que, como galo que é, não pode querer voar…
Galo –
Ninguém me diz o que devo ou não fazer! Já subi até ao cimo do telhado e hei-de subir ainda mais. Muitos velhos do Restelo não me auguram um bom futuro e outros galos da zona norte invejam a minha posição. E irei recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça Galinácea provando, assim, que eu mereço voar.

DF – Se cumprir o que está a prometer, pode prejudicar todas as outras capoeiras do país. Os seus homónimos pelo país fora podem perder o direito a emigrar, reduzindo, assim, a importação de milho.
Galo –
Isso não são contas do meu rosário. Os outros animais têm que saber que eu quero, posso e mando! Aliás, sou o único galo transformado em louça vendido por todo o país. E isso não é para qualquer um.

DF – Sim, é verdade. Mas isso não lhe dá razão para fazer o que quer. Todos temos que respeitar e ser respeitados.
Galo –
Aí é que está a questão. Ainda há dias fui a Lisboa para passear e fecharam-me a porta na cara. O meu patrão é um homem duro e autoritário que põe os seus interesses à frente dos da sua profissão. As outras capoeiras pretendem que eu desista de lutar pelo meu objectivo… Estes problemas estão a complicar em muito a minha vida… Estou numa autêntica barca do inferno.

DF – Para terminar, como encara o seu futuro a nível pessoal e profissional?
Galo –
Bem, a nível pessoal espero continuar a cantar à meia-noite e de manhã cedo, que é o que eu mais gosto de fazer. A nível profissional, continuarei a cantar de galo por todas as capoeiras deste país!
André Pereira

sexta-feira, setembro 15, 2006

Entrevista ao Relógio - "Não conheço Portugal"

Diário de Fictícias – Mesmo à hora marcada, senhor Relógio. Há muito tempo que não tinha um entrevistado tão pontual.
Relógio –
Pois, calculo. Eu chego sempre a horas. Aliás, é o que eu faço para viver.

DF – Esta ideia de o entrevistar já tem uns anitos, mas não me tem sido possível contactá-lo, não tenho tido tempo para nada… São muitos os assuntos a resolver e, por vezes, nem dou conta do passar das horas… Bem, já se está a ficar tarde, e eu para aqui a falar. Já agora, que horas são?
Relógio –
Olhe, se continuar a falar dessa maneira, são horas de ir para a cama… Mas eu vim para uma entrevista, e o tempo vai passando. Estamos mesmo em cima da hora!

DF – Peço imensas desculpas, não voltará a acontecer. Senhor Relógio, a sua vida tem sido pautada pelo rigor e disciplina. Nunca desejou sair dessa rotina diária, adquirindo, dessa forma, uma maior liberdade?
Relógio –
Sim, é verdade. Sempre tive uma vida regrada, não sei viver de outra forma. Por outro lado, já tive as minhas recaídas e pensei em desistir de andar às voltas mas tenho três verdadeiros amigos muito importantes para mim: o ponteiro dos segundos (o irmão mais novo), o ponteiro dos minutos (o irmão do meio) e o ponteiro das horas (o irmão mais velho).

DF – Espero que nunca desista, porque sem si as coisas seriam bem mais desorganizadas que agora. E olhe que neste momento, o mundo não é propriamente um Paraíso. Por falar no Éden, qual é o seu país de eleição para trabalhar?
Relógio –
Adoro a Suíça, o meu país de eleição. Também gosto muito de Inglaterra, um país fantástico para mim. Aliás, o meu irmão Big Ben tem residência fixa em Londres. Lá, o tempo pode não ser o melhor mas o meu verdadeiro tempo é excelente, se é que me faço entender... Gosto, essencialmente, de viajar pelos países do norte da Europa, bem como por outros países dos restantes continentes.

DF – Qual a opinião que tem sobre Portugal?
Relógio –
Desculpe, não percebi bem a pergunta… Qual a opinião que tenho sobre quê? Sobre Portugal? Não conheço esse país… Pode ser pura ignorância mas nunca o visitei nem sequer ouvi falar dele…

DF – Sabe (atrapalhado), eu sou um jornal de Portugal… Pode não parecer, mas esse pequeno rectângulo “à beira-mar plantado” é um país… Um grande país, com uma enorme tradição e reconhecida glória pelo mundo fora…
Relógio –
Ah sim… Portugal, não me lembrava de ter estudado esse País na escola, mas agora estou a recordar-me. Nunca o visitei, e pouco dos meus familiares visitaram mas acredito que seja um belíssimo local para viver…

DF – O senhor referiu os seus tempos de escola. Qual era a sua disciplina preferida?
Relógio –
Sempre fui um bom aluno, especialmente a matemática. Contudo, chegava uma altura em que eu não conseguia raciocinar mais e os números faziam-me andar à roda… Mas orgulho-me de nunca ter faltado às aulas e de, acima de tudo, ser muito pontual.

DF – Pontualidade é uma característica muito apreciada por si mas também pelo meu estômago, que já está a dar horas… Mas ainda tenho umas perguntas para lhe colocar… Há quem diga que, para o usar, é preciso ter pulso…
Relógio –
Não é essencial, mas actualmente é aconselhável. Contudo, nestes últimos anos tenho-me sentido muito bem nas paredes de sala e nas torres mais altas das cidades. Também já andei muito nos bolsos dos mais ricos, e passei grandes aventuras na areia e na água… O sol é o meu companheiro mais antigo, acabando por ser o meu próprio relógio biológico.

DF – Foi muito agradável ter falado consigo, mas o tempo passou a voar… Não obstante, podemos falar agora, de forma mais relaxada, off record…
Relógio –
Desculpe, mas não tinha uma reunião marcada para agora, em Portugal?

DF – Sim, mas não se preocupe, porque lá no meu país nós próprios criamos o nosso horário. E aquilo a que o senhor chama de pontualidade, nós chamamos de impossibilidade. O único horário com que nos preocupamos é com o horário de saída.
André Pereira

segunda-feira, setembro 11, 2006

Entrevista ao Desemprego - "Tenho emprego garantido"

Diário de Fictícias – Bom dia, Senhor Doutor, como está?
Desemprego –
Ora muito bom dia. Pode-me trazer uma torrada e um galão, se faz favor?

DF – Não sei se me está a reconhecer, eu sou um jornal, não trabalho neste café. Aliás, desde que o senhor cá entrou, ninguém trabalha cá.
Desemprego –
Epá, que chatice… Estava mesmo a precisar de um bom pequeno-almoço. Há uns anitos que não como nada… Aliás, não faço nada há muito tempo, para onde quer que vá encontro tudo fechado. Viajo apenas de país em país, visitando muitas cidades e diferentes tipos de pessoas.

DF – Conhece muitos países, portanto. Como veio parar a Portugal?
Desemprego –
Não foi difícil. No roteiro turístico que me deram na agência de viagens, Portugal é o país mais procurado pelos meus compatriotas. Não só pelo bom clima económico, como também pela excelente organização a nível social.

DF – Sim, são características do nosso país que atraem muitos turistas.
Desemprego –
Acredito, mas eu não estou em Portugal a passar férias, não sou um turista neste país. Aliás, estou mesmo a pensar comprar casa e investir em diversos sectores.

DF – Pode ser mais específico?
Desemprego –
Sabe, não tenho interesse em nenhuma área específica, o mercado define onde e quando eu devo intervir. O sector público tem sido o meu preferido e, durante uns tempos, continuará a ser.

DF – Porquê a sua insistência no sector público e não no privado?
Desemprego –
Não sou eu que escolho onde trabalhar, mas sim o Governo de cada país. Mas estou a gostar muito de trabalhar na função pública, tudo é muito organizado e a aplicação e eficiência são extremas. No que respeita ao sector privado, parece-me que as decisões estão a ser tomadas correctamente.

DF – Ultimamente, muitas são as pessoas que vêm para a rua manifestar-se contra si e contra o Governo. Perante isso, que análise faz?
Desemprego –
Eu não sei por que razão as pessoas não gostam de mim… Sou essencial para o bom funcionamento de qualquer sociedade. Por outro lado, grande parte das pessoas que está desempregada manifesta-se sem razão. O meu primo Trabalho tem uma área de influência razoável, mas poderia ser maior. As pessoas procuram mais o meu irmão Emprego do que o meu primo. Depois, cai-me tudo em cima.

DF – Hoje em dia, aparece em jornais, revistas, é tema de abertura do Telejornal, conversa de café, tudo gira à sua volta… É uma figura pública com um peso inquestionável na nossa sociedade…
Desemprego –
Sim, eu reconheço isso. Estou “nas bocas do mundo” mas, infelizmente, pelas piores razões. Sou muito activo e de uma coisa posso ter a certeza, tenho sempre emprego garantido.

Desemprego – Já agora, podemos combinar um próximo encontro, para tomar um café ou ir ao cinema?
DF –
(atrapalhado) Não, não… deixe estar. Ultimamente tenho tido muito trabalho e, apesar do esforço e sacrifício que isso implica, prefiro continuar. Obrigado pela entrevista, e veja lá se tira umas férias!

André Pereira

segunda-feira, agosto 07, 2006

Estádio da Nação

Numa altura em que as notícias
Nos informam muito mal
O Diário de Fictícias
Diz o que se passa em Portugal.

Este sobreaquecimento
Que não tem meio de acabar
Até faz com que no Parlamento
Os deputados estejam a suar.

E os polícias e professores
Não negam a manifestação
E dizem que não morrem de amores
Por quem controla a situação.

E quando é preciso calcular
A química das avaliações
Os exames são a brincar
E o ensino aos empurrões.

Na Universidade o tempo voa
E o Estudante cumpre o que sonha
Ou manifesta-se em Lisboa
Ou viaja até Bolonha.

Mas quando chega o momento
De começar a trabalhar
Olha para o orçamento
E dá-lhe vontade de chorar.

Este é o nosso país
Que anda como um caracol
Tem tudo debaixo do nariz
Mas só cheira futebol.

André Pereira
Foto: Dinis Alves

Entrevista à Capa Negra - "Sou uma manifestante assídua"

Não é difícil encontrar uma capa estendida pelas ruas de Coimbra. Apoiada num ombro amigo, a capa negra cobre os universitários, mas, essencialmente, é perita em encobrir aqueles que se dizem estudantes. O nosso jornal falou com uma das muitas capas que anoitecem esta cidade durante o dia.

Capa – Já de quatro! O que é perante a praxe?
Diário de Fictícias –
Desculpe, mas eu não sou estudante, apenas a queria entrevistar, se fosse possível…

Diário de Fictícias – Antes de mais, agradeço a sua disponibilidade para esta entrevista.
Capa –
Não tem que agradecer, não tenho outra vida senão passear no ombro deste rapaz. Não vou a casa há uma semana e, apesar de estar em altura de exames, ainda não toquei nos livros. A minha vida é essencialmente nocturna, são raros os dias em que vejo o sol. A não ser que haja algum protesto ou manifestação estudantil. Se for o caso nem durmo. Temos que defender os nossos direitos!

DF – Os estudantes manifestam-se muito. Quais as principais razões para isso acontecer?
Capa –
(o rapaz interrompe, irritado) “Ensino gratuito! Não às propinas!” Caloiro, quem manda sou eu, eu é que falo! Tenho mais matrículas que tu! Tu não vales nada! Olhos no chão! (insurge-se a Capa). Peço desculpa, ele ainda é novo. Ora bem, eu sou uma manifestante assídua, “a luta continua, governo para a rua”. Nós manifestamo-nos porque… bem… quer dizer… já não há caloiros como antigamente, é isso! Manifestam-se de segunda a sexta. Têm que aprender com quem sabe, os fins-de-semana também contam. Afinal, para quê andar na Universidade, senão para criticar?

DF – Não considera a Universidade um espaço de estudo, onde podemos apreender novos conhecimentos?
Capa –
Sim, claro. Aliás, foi aqui, na cidade do conhecimento, onde aprendi a fazer o nó da gravata, beber shots, dançar, protestar…

DF – Referia-me às aulas...
Capa –
(espantada) Que aulas? Mas a Universidade não é um bar ali na Padre António Vieira? Nunca vi tanto estudante junto… Mas agora que me fala nisso, não me lembro de alguma vez ter tido uma discussão interessante com alguém, a não ser sobre qual a melhor marca de cerveja.

DF – Já que falou em cerveja, costuma ir à Queima das Fitas?
Capa –
Se costumo? Nunca faltei, nem um único dia! É a melhor festa do mundo! Ali é que se aprende a viver. Por vezes, não me lembro do que se passou no dia anterior, mas isso não interessa. Aliás, o importante é que haja muita bebida e barulho. A música é o que menos interessa.

DF – No que respeita à música, as Tunas Académicas são muito admiradas.
Capa –
Sim, eu própria faço parte de uma Tuna, sou a Chefe, a Dux Veteranorum, faço o que quiser a quem quiser. Apesar de não saber o que é uma clave de sol, queremos é diversão.

DF – E esses emblemas que enverga? Já quase que não tem espaço para mais…
Capa –
Tenho muito orgulho nestas insígnias! Representam o número de matrículas que tenho. Sou mesmo superior!

DF – Muito obrigado. Esperava que tivesse sido uma entrevista mais produtiva, em que pudéssemos falar dos problemas dos verdadeiros estudantes…Capa – Há muitos estudantes que verdadeiramente estudam, mas eu e o meu código da Praxe estamos aqui para impedir que tal aconteça! Agora, tenho que ir ali à tasca estudar mais um bocado.

André Pereira
Foto: Dinis Alves

segunda-feira, julho 10, 2006

Ulisses, Século XXI

Bora lá construir um cavalo de pau, e dentro do bucho dele metemos people ajoelhado

Alunos do 6.º E da Eugénio de Castro despediram-se das aulas com um teatrinho. Aproveitaram para dar a volta (e que volta!) à Odisseia, de Homero. Aqui reproduzimos alguns excertos.

Sketch 1

Páris – (com ar sensual) Helena minha babe vo´te raptar!!!
Helena – (muito assustada) Nãããããooooo!!!
Narrador – Ulisses um coxe chateado, baza pa Tróia.
Ulisses – (narrando) Passados dez anos aqui sobre o cerco de Tróia, (pensativo) eu tive um flash: (vira-se para os marinheiros) bora lá construir um cavalo de pau, e dentro do bucho dele metemos people ajoelhado.
Páris – (determinado) Como já passaram alguns dias de cena calma, tenho a certeza que acabou a guerra! Bora recolher o raio do animal do cavalo pa dentro da cidade e fazer uma raive de três dias.
Ulisses – (ele e os marinheiros escapam-se) Com os Troianos ganzados já podemos bazar do bandulho do cavalo, chamar os brothers e bazar pa arrasarmos a city toda.
Narrador – Depois de acabar a guerra de Tróia, Ulisses e os seus “manos” só queriam regressar a Ítaca; porém foram desviados por um corrente submarina e atracaram na Ciclópia.

Sketch 2

Turma toda – (interrogando-se) Ciclópia???
Marinheiros – Ya! (informando) Tipo o people desta terra são os Ciclopes, têm um só olho no meio da tola e alimentam-se à base de carne humana.
Ulisses – Alto aíííí e para o baile!!! Esta ilha está desabitada!
Dois marinheiros – (ao mesmo tempo com um ar de gozo) Upa, upa, puxadote..
Marinheiros – (contradizendo Ulisses) Tás enganado, nesta ilha também habita um troll (alguém se ri) Polifemo, que por ser demasiado agressivo pós outros, foi enviado para aqui, onde vive sozinho e bem acompanhado (ri-se) com as ovelhas!!!
Outro marinheiro – (falando em nome de todos) Nós temos é medo que ele nos veja, é melhor escondermo-nos dentro de uma gruta que há aqui perto.
Outro marinheiro – (com ar irónico) Ganda pontaria! Fomos memo para a gruta doutro troll!
Polifemo – (irritado) Já estou farto!
Ulisses – (com ar solidário) Toma, isto é Caipirão feito com Licor Beirão. Depois de teres comido tanta carne, deves estar com sede!
Polifemo – (saboreando) Mmm, gostei, sabe a Verão! Ok, vais ser o último a bater as botas! E já agora qual é o teu nome rapazinho?
Ulisses – (responde) Ninguém…
Um marinheiro – (sussurrando e feliz) Tive uma luz! Vamos afiar um ramo de árvore fino e vamos torná-lo incandescente nas cinzas da fogueira.
Polifemo – (pedindo socorro, muito aflito) Ai, socorro meus irmãos! Ninguém está aqui, ninguém! Querem matar-me! Ai tou que nem posso!!!
Outros ciclopes – (respondendo à “loucura” de Polifemo) Vai mas é beber uma Frize Limão Cola, a OPA do povo! Já que estás com dor de dentes!!!
Um marinheiro – (diz para o outro ao lado) Por acaso até é verdade que a Frize é a OPA do povo, já falaram com a CNBN e ela diz que a OPA é baril!!!
Ulisses – (aproveitando o sucedido) Vamos mas é dar de frosques e continuar a viagem!

Sketch 3

Ulisses – (espantado) Onde estamos?
Rei Eolo – (dando e aconselhando) Estão na Eólia. Vou dar-vos dar um saco que tem todos os ventos e tempestades, mas ninguém o pode abrir!
Marinheiros – (admirando o saco) Isto é tão beautifull! Bora lá abrir!!!
Ulisses – (espantado com a reacção dos marinheiros) Vocês ouviram aquilo que disseram? Não vão abrir coisa nenhuma! Vamos mas é bazar já daqui!
Vão explorar o terreno, que eu fico a guardar o saco pa ninguém o gamar.
Circe – (contente por ver mais umas vitimas, com ar cínico) Hi! Hi! Hi! Mais uns amiguinhos. Venham, entrem… Vou preparar o licor.
Euríloco – (espantado, a falar com Ulisses) – Nem sabes o que eu vi! Circe, a deusa que reina aqui, transformou todos os teus marinheiros em animais roncantes, em porcos!
Ulisses – (vingativo) Ela já vai ver quem é que brinca melhor!!!
Minerva – (dirigindo-se a Ulisses) Toma esta erva da vida que te dará uma fezada…Uau, que máximo!!!
Toda a turma – (todos ao mesmo tempo) A erva que parecia canábis mas não era, protegeu-o, mas não impediu que Circe o aprisionasse.
Circe – (informando) Ninguém deveria bazar daqui mas como eu me apaixonei pelo Ulisses vou-vos deixar dar a pira. (impondo condições) Mas têm de fazer obrigatoriamente duas coisas: dirijam-se à ilha dos Infernos para falarem com o Profeta Tirésias (Titi para os amigos); e quando passarem pelo mar das sereias tapam os ouvidos com cera viscosa, ou então serão seduzidos ou mortos!

sábado, julho 08, 2006

Entrevista ao Papel - "Todos somos papel"

Diário de Fictícias – Antes de iniciar esta entrevista, gostaria de agradecer a sua disponibilidade em aceitar este nosso convite.
Sr. Papel –
Ora essa, eu é que agradeço por, finalmente, alguém me utilizar de forma adequada.

DF – Como assim?
Papel –
Hoje em dia tenho encontrado muitos problemas, talvez o mais importante seja a preferência das pessoas pelo meu maior concorrente, o Computador. Por isso fico contente por me utilizar para este seu trabalho.

DF – O Computador ocupa um lugar essencial na nossa sociedade…
Papel –
Sim, e, por um lado, eu até concordo porque facilita a vida às pessoas, a muitos níveis. Por exemplo, os documentos podem ser arquivados sem ganhar pó, podem ser guardados num espaço ilimitado… Reconheço a importância do Ciberespaço. Contudo, fico triste ao assistir ao desaparecimento de coisas que já faziam parte da nossa vida… Já não se enviam cartas de amor pelo correio, a compra de livros tem diminuído, os bilhetes trocados entre namorados foram substituídos pelos sms… Muita coisa mudou… Agora tudo o que encontramos no “mundo real” encontramos no “mundo virtual”, e até em maior quantidade.

DF – Isso não traduzirá a inovação tecnológica que varre quase todo o planeta?
Papel –
Esse é um tema um pouco ambíguo, uma vez que inovação tecnológica pode não querer significar melhoria da qualidade de vida. Os objectos electrónicos são muito importantes mas também têm as suas desvantagens… Hoje em dia, se um sistema electrónico falhar, pode causar danos a muitas pessoas. As máquinas têm-se apoderado do ser humano.

DF – Segundo estudos recentes, o seu consumo – falo do papel, naturalmente –, nesta “era dos computadores” tem vindo a aumentar, contrariando todas as previsões.
Papel –
Sim, no início tudo parecia prejudicial, mas acabou por ter aspectos positivos, uma vez que os próprios computadores fazem com que eu e a minha família sejamos mais utilizados… Eu até tenho uma boa relação com o Computador, mas acho que, por vezes, sou preterido em relação aos ficheiros electrónicos.

DF – O que recorda com mais saudade dos seus tempos de infância?
Papel –
Quando eu nasci, há mais de 2000 anos, na China, fui considerado uma descoberta incrível. Lembro-me de ser, nessa altura, muito bem visto e idolatrado por muitos. Tinha um “papel principal”.

DF – Actualmente, reparte o pódio com outras invenções…
Papel –
Sim. E isso não me incomoda nada. Sabe, todos temos papéis diferentes… Somos todos necessários à sociedade.

DF – Quais são as áreas da sua preferência?
Papel –
Sou muito ligado aos trabalhos manuais, à literatura, ao teatro, ao cinema, à economia... Resumindo, gosto muito de Política! Sou o elemento que passeia mais dentro da Assembleia da República… Ando de um lado para o outro, visito várias secretárias, cadeiras, canetas então!… No fim, o resultado é sempre o mesmo. Todos os projectos que por mim passam, acabam por morrer. Fica tudo no papel.

DF – Como é o seu dia-a-dia?
Papel –
Acordo sempre muito cedo para trabalhar. Levanto-me da cama todo amarrotado e com vontade de passar o dia deitado… Aliás, é isso mesmo que acontece. O meu tempo divide-se entre a papelaria onde passo a maior parte do tempo (andando de mão em mão, de impressora em impressora, levando uns agrafes aqui outros ali, uns furinhos, enfim, tudo e mais alguma coisa…) e a Assembleia da República. Muitas das vezes, não sei se é impressão minha, mas fico com um tom de pele diferente… Ou estou muito colorido, ou a preto e branco, ou às riscas, aos quadradinhos…

DF – Acaba por ter uma vida divertida…
Papel –
Pode-se dizer que sim; porém, a diversão não é tudo e precisamos de “papel” para viver… Nesse aspecto é que sou um pouco prejudicado. Eu sou muito barato e as pessoas não me sabem aproveitar… Poderia ter uma vida mais longa e tranquila se, depois de me utilizarem, me colocassem no meu devido lugar, num Ecoponto.

DF – Tem algum modelo a seguir?
Papel –
Sim, tenho. Sempre gostei do papel de embrulho, porque acaba por ser sempre uma surpresa para todos. Apesar de trabalhar mais na época natalícia, nunca deixou de ser o meu ídolo. Admiro muito, ainda, o Senhor Bill Gates que, apesar de ser dono do “Mundo Informático” é a pessoa que tem mais “papel” no mundo.

DF – Que conselho deixa aos seus utilizadores?
Papel – Todos nós somos e temos um papel na vida. O importante é saber escrever nele.

André Pereira

terça-feira, junho 20, 2006

Entrevista ao Silêncio - Sem Palavras...

Esta entrevista foi feita off-record uma vez que o entrevistado não pode ser ouvido oficialmente.

DF – Olá, senhor Silêncio. Desde já agradeço a sua disponibilidade para nos dar esta entrevista…
Silêncio –
Não tem de quê… Eu estou sempre disponível, as pessoas é que muitas das vezes não sabem como me contactar…

DF – Comecemos pelo princípio… Que recordações guarda da sua infância?
Silêncio –
Ora bem, eu nasci muito longe de Portugal… Num planeta muito distante, não pertencente a esta galáxia. Contudo, vim muito cedo para o planeta Terra e instalei-me aqui em Portugal. Durante muitos anos era muito apreciado, especialmente enquanto estava no poder um senhor que já foi referido numa das suas anteriores entrevistas… Como é meu hábito, recuso-me a dizer o seu nome. Vivi muito bem nessa altura, apesar de ser perturbado algumas (muito raras) vezes. Especificamente da minha infância, lembro-me de ver os conselhos do meu pai (não os podia ouvir porque ele não falava, era o Senhor Silêncio Absoluto) e de ler nos lábios de minha mãe as canções de embalar que utilizava para me adormecer (era a Senhora Caluda) . Recordo-me ainda de ver na televisão um filme sobre o meu irmão, “O Silêncio dos Inocentes”.

DF – A partir de uma certa altura na sua vida, o seu papel na sociedade tendeu a diminuir. Encontra alguma razão para que isso tenha acontecido?
Silêncio –
De há umas décadas para cá que noto que tenho sido enviado para segundo plano. As pessoas começaram a poder expressar-se mais livremente, a música começou a utilizar mais instrumentos e sons… Tudo mudou… Hoje em dia, vivemos num tempo muito agitado. Até mesmo o meu primo, o Pensamento, tem sofrido muito com estas alterações. Ninguém pára para pensar! E quando pensam que estão a pensar, fazem-no num ambiente de barulho… Barulho a todos os níveis: social, económico, financeiro…

DF – Há quem o critique pela sua apatia perante os problemas sociais…
Silêncio –
Eu não posso emitir muitas opiniões, uma vez que não fui feito para dar opinião mas sim para pensar sobre o problema. Ando sempre com o meu primo… Reconheço que muitos utilizam o meu perfil para se defenderem… Quando não têm certeza do que pensam, escondem-se atrás da minha “imagem”. Se eu opinasse sobre os problemas sociais, deixaria de existir e de ter credibilidade. Preciso sempre de alguém que me ajude a prevalecer.

DF – Actualmente, que faz?
Silêncio –
Bem, eu ando por aí a passear discretamente. Falo muitas vezes com quem me quer ouvir, contudo não sou bem interpretado por muita gente… O meu horário laboral é nocturno, apesar de, uma vez por outra, trabalhar de dia, por turnos. Mas é muito raro. E até de noite as coisas estão cada vez piores.

DF – Para além da sua actividade, que hobbies tem?
Silêncio –
Desde muito pequenino que tenho uma grande paixão pelo fado. Apesar de não poder cantar, acompanho quem o faz. Sempre que alguém canta o fado, lá estou eu: “Silêncio, que se vai cantar o fado”.

DF – Muita gente fala de si, o que por um lado é positivo; por outro lado, esta fama a que está sujeito afasta-o da sociedade…
Silêncio –
Sim, claro que sim. Eu mesmo, estando a conceder-lhe esta entrevista, estou a quebrar o meu Código Deontológico. Mas espero que não revistem o meu computador à procura de material sonoro… Aliás, poucas vezes utilizo o computador, os meus pertences estão todos arquivados em envelopes noves… Peço desculpa, em envelopes novos.

DF – Quais são as situações mais embaraçosas em que se encontrou até hoje?
Silêncio –
É uma pergunta difícil de responder… Posso dizer que me desloco constantemente a todos os clubes de futebol, passo a vida numa correria muito stressante, especialmente quando há Black-outs… Ultimamente tenho ido mais para o norte. Outro caso bastante mediático em que me encontrei envolvido como arguido foi o caso de abuso de menores na Casa Pia. Muitos são aqueles que me tentam comprar, muitos são os que me querem vender… Posso dizer que sou o principal acusado de o processo ainda não ter andado para a frente…

DF – Com estas suas afirmações, está a quebrar o silêncio?
Silêncio –
Longe de mim prejudicar os meus familiares. Eu concedo-lhe esta entrevista mas espero que fique com o meu avô, no Silêncio dos Deuses. Caso contrário terei eu mesmo que o silenciar. Sabe, eu faço as coisas pela calada…

DF – Tem algum sonho que gostaria de ver concretizado?
Silêncio –
Gostaria muito que as pessoas me ouvissem mais vezes. Sabe, eu sou essencial para fazer com que as pessoas sonhem. Sem o silêncio não há sonhos, mas o pior sonho das pessoas é o maior silêncio do mundo… a Morte! E depois lá vem o meu irmão mais pequenino meter-se convosco: o “Minuto de Silêncio”.

André Pereira

quinta-feira, junho 15, 2006

É nooooooossa!

Portugal venceu ontem à noite o Brasil por três bolas a uma na final do Mundial 2006 conquistando o título de campeão mundial. O jogo foi bastante equilibrado, como seria de esperar, mas a força e determinação dos jogadores portugueses acabou por ser fundamental para chegar à vitória.

Os protagonistas

A Selecção Portuguesa alinhou com Ricardo na baliza, defesa composta por Paulo Ferreira e Caneira nas laterais, Ricardo Carvalho e Fernando Meira no eixo central. No meio campo alinharam Petit e Maniche (mais recuados), Deco mais no miolo com Luís Figo e Cristiano Ronaldo nas laterais ofensivas, dando o seu apoio ao ponta-de-lança Pauleta.
O Brasil alinhou com o seguinto onze: Dida, Cafu, Juan, Lucio e Roberto Carlos; Emerson, Zé Roberto, Kaká e Ronaldinho Gaúcho; Ronaldo e Adriano.

HISTÓRIA DO JOGO

O conjunto português não entrou da melhor maneira. A equipa estava muito nervosa e foi com alguma naturalidade que o Brasil chegou ao 1-0, quando estavam decorridos apenas 15 minutos de jogo. Ronaldinho foge mais uma vez pela esquerda, faz uma tabela com Emerson e isola-se frente a Ricardo, que não teve qualquer hipótese de parar o potente e colocado remate
do número 10 brasileiro.

A equipa portuguesa reagiu bem ao golo. De facto, foi o melhor que podia ter acontecido.
Uma excelente combinação entre Deco e Figo culminou num remate deste com Dida a responder através de uma excelente defesa. Dois minutos depois, um livre directo cobrado por Cristiano Ronaldo passou a centímetros do poste da baliza de Dida. Era o melhor período da Selecção Portuguesa.


A segunda parte começou praticamente com o golo do empate. Livre descaído na direita e Fernando Meira a desviar subtilmente a bola ao primeiro poste, batendo Dida pela primeira vez. O Brasil reagiu de imediato com um remate à entrada da área por parte de Adriano que fez a bola bater com estrondo no poste da baliza de Ricardo.

A partir daí o jogo manteve-se repartido, com algum ascendente por parte da equipa canarinha. Ronaldinho e Ricardo mantiveram um duelo onde o guardião português levou sempre a melhor sobre o talentoso avançado brasileiro. A 10 minutos do fim Cristiano Ronaldo teve um lance de génio. Ultrapassando Emerson com uma brilhante finta e batendo Cafu em velocidade desferiu um remate cruzado que só parou no fundo da baliza de Dida. E estava feita a reviravolta no marcador!

O Brasil apostou tudo no ataque. Pouco tempo depois quase empatava, após jogada confusa na área de Portugal, com Lucio a rematar e Ricardo a fazer uma defesa por instinto.

Já em cima do minuto 90 surgiu um canto a favor de Portugal. Ricardo saltou mais alto e agarrou a bola, lançando de imediato Simão Sabrosa (acabado de entrar). Completamente isolado perante o guarda-redes brasileiro, Simão não teve qualquer dificuldade em o contornar, empurrando a bola para o fundo das redes mais uma vez. E a história estava feita, Portugal é campeão mundial!
Quanto a Scolari, o Felipão festejou o seu segundo título mundial. Há quatro anos, pelo Brasil. Desta feita contra o Brasil. Portugal está em festa, o governo já decretou feriado nacional para amanhã. Scolari regressa a Portugal feliz, mas com o coração dividido.
Pedro Santos

quarta-feira, junho 14, 2006

O Cinema


Nascido a 28 de Dezembro de 1895 fruto de uma próspera parceria entre irmãos, o Cinema tornou-se numa palavra comum na boca da humanidade, o seu aparecimento revolucionou o próprio conceito de entretenimento fundindo-o com a cultura e tornando-a assim disponivel a um público mais alargado. Visto como uma benção para uns, um mal da sociedade para outros, não deixa niguém indifrente.

DF: Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer o tempo despendido para esta entrevista. Como workaholic que é não deve ter sido fácil arranjar tempo para nós. Antes de mais, como se sente com 108 anos? Cansado e com vontade de passar o testemunho a outros meios, ou ainda mais motivado para vencer novos e tremendos desafios?
Cinema:
Bem, ao contrário do que possa imaginar não vou envelhecendo, bem pelo contrário. Quanto mais o tempo passa mais revigorado me sinto; longe vão os dias do preto e branco, hoje sou cor e movimento. Com o passar dos anos deixei as baias da realidade, a imaginação é o limite, melhor, a imaginação não tem limites. Claro que me sinto com força para continuar.

DF: Então e o que diz às pessoas que o acusam de já não trazer nada de novo, de apenas se servir de modelos predefinidos e repetitivos para conseguir atenção fácil?
Cinema:
Digo apenas para me prestarem maior atenção pois se dizem isso é porque andam distraídos. É claro que tenho géneros base - drama, acção, terror, comédia -, mas eles também se podem cruzar e dar origem a uma multiplicidade de sub-géneros. Veja-se o caso da trilogia Evil Dead, de Sam Raimi. É um exemplo extremo, mas esse meu colaborador conseguiu criar a comédia de terror. As potencialidades para inovarmos são infinitas.

DF: Tem algum género favorito?
Cinema:
Talvez a comédia, é um género menosprezado mas ao qual dou muito valor. Podem não ser as minhas obras-primas, mas são muito importantes. As pessoas estão fartas do mundo sério em que vivem, precisam de uma boa escapatória; todos sabemos que não há nada melhor do que uma boa gargalhada para nos fazer sentir melhor.

DF: Houve algum período maldito na sua existência, alguma vez pensou que era desta que iria arrumar as bobines?
Cinema:
Orgulho-me de todas as minhas obras, mas de facto, se tenho mesmo que fazer o exercício que me pede, talvez os anos 80 do século passado. Aqueles penteados ainda hoje me deixam com os cabelos em pé! Se queríamos desafiar as leis da gravidade não era pelo cabelo que devíamos começar. E a roupa?! Nunca em toda a minha vida pensei assistir a tamanha parada de mau gosto, desde os chapéus até aos casacos cujos padrões pareciam retirados de cortinados de sala de estar. O maior defeito dos filmes, neste período, não estava nas obras em si mas na moda, especialmente nas comédias para adolescentes.

DF: Pergunta sacramental: qual é a sua obra favorita?
Cinema:
Está à espera que eu lhe responda? Engana-se...

DF: Já supunha isso.
Cinema:
Mas posso nomear algumas obras das quais muito me orgulho. Por exemplo, Metropolis, em parceria com Fritz Lang; Apocalypse Now, do Coppola, ou a trilogia O Padrinho. É uma lista longa, que engrossa todos os anos.

DF: Muito obrigado pelo tempo que nos disponibilizou, obrigado também pelos bons e inesquecíveis momentos que nos vai proporcionando.
Cinema:
Eu é que agradeço. O carinho que têm por mim, pelas fitas que exibo, é o que mais me motiva a continuar. E Coimbra está de parabéns, tanta sala de cinema nova, que luxo. É preciso que as salas encham, que fitas não é só na Queima, meu menino!

José Santiago

terça-feira, maio 30, 2006

"Temos sido roubados"


Adalberto Júnior, jogador profissional do SFC (Só Futebol Clube) aceitou conceder uma entrevista ao Diário de Fictícias, com o intuito de “esclarecer o que se passa no mundo do futebol”.

DF: Adalberto, qual é o seu estado de espírito neste momento?
AJ
: (enquanto limpa o suor da testa) Foi um jogo limpo, valeu pelos três pontos, acho que merecemos ganhar e vamos agora pensar no próximo jogo, que é já no próximo domingo.

DF: Não me referia ao seu sentimento após o jogo de ontem, mas sim ao que sente quando vê o seu nome envolvido neste caso de polícia?
AJ
: (atrapalhado) Claro, claro… Apenas estava a ensaiar. É claro que me sinto apreensivo e com o moral muito em baixo. Tenho a certeza que nada fiz para ter sido constituído arguido, mas espero que se faça justiça.

DF: O que pensa deste caso?
AJ: Este é claramente um caso que não aconteceu por mero acaso. Tudo se tem vindo a agravar desde a 8ª jornada. Desde essa altura temos sido roubados…. Já fiquei sem três telemóveis, duas fitas para pôr no cabelo, seis brincos e até já fiquei sem uma tatuagem que tinha no braço a dizer “Amor de Mãe”. Imagine os meus colegas… Ninguém me tira da cabeça que o senhor árbitro, durante o jogo e sem darmos por isso, mete a mão nos nossos bolsos e tira o que pode.

DF: Tem a noção que é uma acusação muito grave, apelidar o árbitro de “senhor”…
AJ: Sim, mas assumo todas as minhas responsabilidades pelo que disse. Às vezes reconheço que me exalto e depois excedo-me quer no tom de voz quer nas palavras que utilizo… (Agora já sem camisola) Como capitão desta equipa afirmo que no próximo jogo não cometeremos qualquer tipo de falta.

DF: É uma forma de protesto?
AJ: Claro que sim. Todos nós sabemos que os árbitros, especialmente em Portugal, gostam muito de apitar. A razão para tal é que ninguém sabe. Mas eu digo, sem qualquer medo de represálias: o objectivo desses “senhores” é polir bem o apito para que este se torne cada vez mais dourado…

DF: Está a insinuar alguma coisa?
AJ: Hoje em dia, o arco-íris já não aparece muitas vezes, o céu torna-se cada vez mais azul…

DF: Alguma metáfora?
AJ
: Não sei, senti-me apertado na defesa e disseram para meter a bola fora “Mete fora, mete fora!”. Foi o que eu fiz. Por isso, acho que se pode considerar uma metáfora.

DF: Mudando de assunto, o Mundial de Futebol aproxima-se e o Adalberto não faz parte dos eleitos do seleccionador…
AJ
: Sim, fiquei muito desiludido com esta escolha até porque eu sou um jogador com muita qualidade. Acho que o mister não me escolheu porque eu costumo usar muitos brincos e falo com o sotaque do norte, carago. Mas ninguém morreu por isso.

DF: Contudo, o que deseja aos 23 jogadores que irão representar o seu país?
AJ
: Bem, já ganhámos várias vezes esta competição, por isso não vai ser muito difícil levarmos mais um troféu para casa, para depois desfilarmos no Bairro da Tijuca, ao som do samba!

DF: Eu referia-me à Selecção Portuguesa…
AJ
: Ah pois… O meu país do coração. Sim, adoro muito Portugal, o clima é fantástico, os portugueses são muito simpáticos. Somos o povo irmão. E, como é natural, espero encontrar Portugal na final… Quer dizer… Espero que Portugal vá à final!

DF: Que conselho dá aos seus fãs?
AJ
: Acima de tudo está o futebol, só depois vem a escola! Eu fiz assim e, graças a Deus, sou o que se vê!
André Pereira

quarta-feira, maio 24, 2006

Uma Entrevista a um Pincel


Numa tarde chuvosa de Domingo, um pincel recebeu-nos para uma entrevista no seu local de trabalho. Trata-se de um atelier, numa zona típica e pitoresca de Coimbra; um espaço artístico intensamente vivido, onde as obras tomam conta do local e dos visitantes. A conversa sucedeu-se nervosamente, evidenciando alguém pouco habituado a entrevistas.


DF - Esta sua fase, pode ser considerada como uma ruptura ou uma evolução em relação aos seus anteriores trabalhos?
Pincel
- É uma evolução, uma continuação... O meu processo, é uma análise tendo sempre em vista o que acontece à minha volta; por outro lado, desde o príncipio tenho vindo a construir uma linguagem através de sinais e códigos, que vai evoluindo ao longo dos anos e isso é bem patente durante o período em que estive em África. E, mais tarde, à medida que as coisas foram, normalmente, acontecendo e eu tive outro tipo de contactos, nomeadamente na Europa com outros autores fui também construindo uma linguagem própria a partir do que ia captando. Em relação ao México o processo é semelhante: tive, igualmente, um contacto muito profundo com a cultura mexicana, quer com a arte, quer com a arqueologia e a história e apropriei-me de uma série de sinais que introduzi na minha própria linguagem. Portanto, o processo continua, com novos elementos.


DF - Mas em relação à cor, ela continua a ser fundamental e uma constante em toda a sua obra.
Pincel
- Sim, a cor continua a ser importante, embora nestes trabalhos tenha introduzido prateados e dourados, que já utilizava.


DF - O que é que gosta mais de criar? Quadros ou esculturas?
Pincel
- É indiferente, depende, tenho fases. Neste momento estou a pintar mais, mas não quer dizer que, de um momento para o outro, pare.


DF - E no que diz respeito às outras actividades que mantém paralelamente, como coçar as costas e fazer cócegas...
Pincel
- Não são, nem de perto nem de longe, a minha actividade principal. São actividades secundárias que faço só em ocasiões muito especiais, porque, ao fazê-las, interrompo o meu processo criativo.


DF - Acha que é mais conhecido nacional ou internacionalmente?
Pincel
- Na realidade, tenho divulgado mais a minha obra lá fora do que aqui em Portugal. Nunca quis que o meu trabalho morresse nas paredes das casas dos portugueses. Como não há grande tradição cultural nem artística no nosso país, logo também não há tradição de pintura. Por isso, uma obra apenas conhecida em Portugal é menos visível do que se fosse conhecida internacionalmente. Portanto, sempre desejei que a minha obra fosse conhecida no estrangeiro. Aliás, é facilmente perceptível que os meus trabalhos não têm nada a ver com os fenómenos folclóricos portugueses. Têm uma linguagem que tanto é perceptível em Portugal como em outro país qualquer. Não vive o aperto de um provincianismo português.


DF - Mas não sente que, ultimamente, os nossos tugas despertaram para a sua pintura?
Pincel
- Em Portugal, há uma barreira difícil de transpor que é a do provincianismo, ou então a barreira daqueles que, à partida, pretendem anular os que se vão evidenciando. É um jogo de intrigas e ciúmes que obrigam o pincel de renome como eu a sair e pintar lá fora. Ao menos assim é difícil voltar a estrangular o leque de opções que se abrem quando se inicia uma carreira internacional.


DF - O gosto pelo seu trabalho é algo que se renova ou é já uma obsessão?
Pincel
- O facto de ter uma disciplina de trabalho e estar quase sempre no atelier não significa que esteja sempre a produzir novas coisas. Vou produzindo pequenas coisas e preparando novas obras, muitas vezes em busca de inspiração, porque há alturas em que, pura e simplesmente, não consigo produzir nada. Não estou inspirado, nem com criatividade, mas são dias que não posso perder e, portanto, há outro género de trabalhos que posso fazer. Um pincel tem que estar tecnicamente preparado e apetrechado para que, quando surja essa inspiração, se possa dar vazão a esses momentos mais profícuos. Logo, a disciplina é extremamente importante num trabalho como este. Quanto mais se trabalha, mais se aperfeiçoa e mais se melhora o produto final, principalmente a sua vertente técnica.. Por isso, aqueles que não têm uma personalidade vincada e uma mão criadora na sua obra são facilmente detectáveis.


DF - E em relação ao futuro?
Pincel
- Vou trabalhando nos meus projectos, vou evoluindo e desenvolvendo o meu trabalho, o que aliás objectivo desde sempre. Os meus pêlos são de cedro são fortes e vigorosos, tenho a certeza que não me vão deixar ficar mal.


DF - Para terminar, gostaria de saber a sua opinião sobre as novas tecnologias de pintura por computador.
Pincel
- Em primeiro lugar, digo-lhe que estou muito pouco informado sobre esse fenómeno. Tanto quanto sei, é um processo até simples, desde que se disponha de um computador. No fundo, é como dispor de uma máquina que executa.. Mas eu não tenho preocupações o traço que um pincel deixa é marcante


DF - Mas o que é que acha que serão as consequências disso no futuro? Alinha no cepticismo daqueles que temem que a pintura informática fará com que as pessoas deixem de apreciar a arte manual!
Pincel
- Acho que não. Eu, por exemplo, tenho um amigo computador com o qual nunca tive grandes realções pois não estou interessado nisso. Continuo a trabalhar pelas viasque sempre trabalhei. Sei que há artistas que usam o computador para trabalhar, mas tenho sistemas adaptados ao meu processo que me permitam resolver rapidamente as coisas. Ainda não pensei a sério na questão dos computadores. Contudo, acho que para quem gosta que faça bom proveito.


DF - Muito Obrigado Sr Pincel.
Ivan Costa

"A Culpa é dos Fantasmas!"


Dona Propina não compreende os protestos dos estudantes. Mostra-se contra os alunos-fantasma, quer que os calões paguem a crise e anuncia reforma daqui a dois anos.

DF - Bom dia. Que comentários faz ao protesto dos estudantes?
Dona Propina
– Em meu entender não se justificam.


DF - Mas os estudantes queixam-se de que muitos vão deixar de poder pagar as propinas, que passaremos a ter um ensino superior elitista a que só os ricos terão acesso.
Dona Propina
- Só os ricos? Sabe quanto dinheiro é que os nossos estudantes pobres gastam por mês em telemóvel, cigarros e copos?


DF – Sinceramente não sei.
Dona Propina
- Eu também não. Mas tenho a certeza que ultrapassa largamente o valor mensal das propinas. Muitos dos nossos estudantes, bem feitas as contas, não sabem verdadeiramente o que significa ser pobre.


DF - Mas os estudantes protestam de norte a sul...
Dona Propina
- Uma prova cabal de que as propinas são baratas é o elevado número de alunos-fantasma, estudantes que pagam as propinas mas que nunca põem os pés na universidade, nunca vão às aulas e nunca aparecem aos exames. Nós temos cerca de 50% desses fantasmas. Deitam o dinheiro das propinas para o lixo. Isso é uma prova evidente de que as propinas são baratas.


DF - Não admite que haja estudantes com dificuldades para pagar?
Dona Propina
– É capaz de haver alguns. Mas repare que as propinas representam aproximadamente 10 a 15% das despesas mensais de um estudante. Por outras palavras: não é o facto de as propinas passarem para 50 euros por mês que vai fazer com que só os ricos possam estudar. Infelizmente, aqueles que são realmente pobres têm poucas hipóteses de estudar, com ou sem propinas.


DF - O aumento pecou por escasso, é isso?
Dona Propina
- O valor das propinas após o aumento continua a ser simbólico, dá para as despesas correntes da universidade. Quase nada desse dinheiro é usado para melhorar substancialmente o ensino universitário. A questão essencial é decidir se o ensino superior deve ser um direito universal, assegurado na íntegra pelo Estado. Na minha opinião, nem todos deveriam ter acesso gratuito ao ensino superior. O Estado só deveria subsidiar o ensino superior àqueles que merecem.


DF - E quem é que merece?
Dona Propina
- São aqueles que estudam. Os que andam na vadiagem vão embora, ou então pagam o preço real do ensino superior.


DF - E como é que isso poderia ser feito?
Dona Propina
- Por exemplo: os estudantes com média superior a 16 não só não pagariam as propinas, como receberiam um subsídio mensal do Estado de 500 euros; com média entre 14 e 16 ficariam isentos de propinas, recebendo um subsídio mensal de 250 euros; e por aí adiante. Os que chumbam sistematicamente teriam de pagar os custos reais do ensino superior público. Seria uma espécie de medida à Robin dos Bosques. A diferença é que em vez de tirar aos ricos para dar aos pobres, tiramos aos calões para dar aos que estudam.


DF - Não receia que as universidades fiquem com muito poucos alunos?
Dona Propina
- Infelizmente sim.


DF - E havendo poucos alunos, ficava com professores a mais, certo?
Dona Propina
- Infelizmente sim.


DF - E se calhar a senhora ficava sem emprego.
Dona Propina
– De maneira nenhuma. Eu estou no ensino superior em comissão de serviço, pertenço aos quadros do Ministério das Finanças. E digo-lhe mais, já começo a ficar farta disto. Mais dois anitos peço a reforma, quem vier depois de mim que feche a porta ou então consiga verbas para aguentar o funcionamento do sistema. E
agora vá mas é estudar…

Ana Brites