sexta-feira, dezembro 29, 2006

Entrevista ao Ano 2006 - "É preciso muita dranquilidade"

Diário de Fictícias – Bom dia, senhor 2006!
2006 –
Diga? Vai ter que falar mais alto… Já estou muito velhinho e não tenho a genica de outros tempos…

DF – Queria falar consigo sobre a sua vida que, apesar de curta, foi muito conturbada…
2006 –
Sim, tem razão. Tenho de aproveitar ao máximo os 12 meses que tenho de vida e, frequentemente, faço aquilo que não devia. Mas, como diz o povo, a vida são 365 dias e o Carnaval são 366…

DF – Desculpe, mas está a fazer alguma confusão... “A vida são dois dias e o Carnaval são 3”. Esta é a citação correcta.
2006 –
Pois, mas disseram-me que aqui em Portugal o Carnaval é durante todo o ano… E eu próprio notei isso durante este período…

DF – Como assim? Viu muita gente a desfilar nas ruas ao som do samba?
2006 –
Neste país, o Carnaval é muito diferente do do Brasil, mas vi muitas palhaçadas. No que diz respeito à música, apesar de este ter sido o ano de Mozart, estava sempre a ouvir o Bailinho da Madeira.

DF – Gosta que lhe dêem música, portanto… Que balanço faz dos seus primeiros meses de vida?
2006 –
Bem, essencialmente, tentei continuar o trabalho do meu pai. Aqui em Portugal, as nossas gerações não são muito diferentes, até porque raramente há uma mudança significativa de mentalidade. Foi eleito um novo Presidente e, por coincidência ou não, arderam mais uns cavacos por este país.

DF – Este ano o país não poderia deixar de arder… Afinal houve quem tivesse festejado o dia da Besta…
2006 –
Desculpe mas eu não gosto que tratem assim as pessoas. Se não gosta daquele senhor do Norte, não tem que lhe chamar nomes…

DF – O dia da Besta foi no dia 6/6/6… Não é minha intenção criticar ninguém. Aliás, se precisasse de o fazer, acho que escreveria um livro…
2006 –
Ah, sim… Pensava que estava a falar de outra pessoa. Mas, já agora que fala em literatura, parece que surgiu uma publicação que tem sido o Sol deste fim de ano. Aliás, tem colocado muita gente à sombra e, por vezes, ao bater nos objectos dá-lhes uma cor dourada… Mas não me posso pronunciar sobre esse assunto… Ainda não li o livro. Só falo em tribunal e na presença do meu advogado.

DF – No que respeita a filmes, qual foi o seu preferido?
2006 –
Gostei bastante da adaptação a cinema do “Auto da Barca do Inferno”, do Senhor Gil Vicente, porque mistura vários géneros: desde o terror, passando pelo drama e acabando na comédia. Também gostei muito de um filme franco-italiano, em que, no final, o mau da fita dá uma cabeçada no inimigo.

DF – É inédito alguém entrevistar um ano, como eu estou a fazer, entrevistando-o a si. Talvez devêssemos entrar para o Guiness… O que acha?
2006 –
Tenha calma, é preciso ter muita “dranquilidade”, como diz o senhor Bento.

DF – Mas, normalmente, as palavras do Bento não são muito bem-vindas no mundo islâmico…
2006 –
Referia-me ao Paulo, o treinador dos leões!

DF – Ah, peço imensa desculpa! Acho que é das horas… Está a ficar tarde e temos de ir. Ainda tenho que ir fazer um doce para a noite de Natal.
2006 –
Talvez seja isso. Eu não gosto muito de açúcar, prefiro salgados…

DF – Como eu o compreendo… Gostei muito de ter falado consigo, foi muito amável para com o Diário de Fictícias.
2006 – Ora essa, o prazer foi meu. Brevemente virá a minha substituição. E certamente ninguém sairá para as ruas a protestar…

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Conto de Natal - Reis de Belém

O Diário de Fictícias, envolvido por este espírito que envolve todo o mundo cristão, mas, essencialmente, todo o mundo EUROpeu, decidiu acompanhar os Reis Magos e ir à Terra Natal entregar alguns presentes ao menino.

– Basta seguir aquela estrela – disse Belchior.
– Mas aquela estrela leva-nos até Sintra, e não a Belém, que é onde queremos ir – responde Baltazar.
– Ele tem razão, Belchior. Devemos antes guiarmo-nos pelo nosso GPS, e não fazer como aquele senhor que, apesar de gerir a empresa SGPS, não se soube orientar. E nós não queremos aparecer na lista de devedores ao fisco, pois não? Muito menos que as nossas companheiras publiquem um livro a incriminar-nos – diz Gaspar.
– Segundo o sistema, devemos ir por aquela rua – afirma Baltazar, apontando a direcção.
– Por aí vamos dar ao estádio de futebol onde também mora um Jesus, mas não é bem esse que queremos encontrar. – remata Belchior.

Assim começou a longa viagem que os três Reis Magos e a nossa equipa de reportagem fizeram até à Terra Prometida*. Chegados a Belém, deparámo-nos com um luxuoso palácio, protegido por guardas imponentes. Fizemos as apresentações, mostrámos os convites e, após terem verificado se nos encontrávamos bem vestidos (o essencial era ter o cinto bem apertado), os guardas que, apesar da noite escura se encontravam de óculos de sol, abriram a porta e entregaram-nos um cartão de consumo mínimo.

Algo incrédulos com aquela recepção, dirigimo-nos ao local onde se encontrava a família reunida, à volta de um cavaco em chamas que aquecia a casa.

– Boa noite, senhores! – disseram em coro os Reis Magos – Cada um de nós tem uma prenda para vos oferecer.
– Senhor José, para si tenho esta caixa de ferramentas. Como bom carpinteiro que é, espero que faça bom uso para tratar da Madeira. E, como sei que também tem dotes de jardinagem, ofereço-lhe estas rosas para plantar.
– Obrigado Belchior, agora é a minha vez de oferecer a minha prenda à “nova inquilina”. É uma caixinha com ouro, mas cá dentro tem um objecto que anda, literalmente, na boca de muita gente… Espero que faça melhor uso que os habituais utilizadores…
– Por último – continuou Gaspar – tenho este espremedor de laranjas para o senhor Silva. Devido às críticas de que tem sido alvo, acho que este é o presente ideal.

A família agradeceu calorosamente aos Reis Magos que, após terem cumprido o consumo mínimo através do pagamento de vários impostos, abandonaram o local sem a certeza de voltarem no próximo ano.

*Terra Prometida não no sentido de estar na agenda de aquisições de alguém mas sim porque é lá onde se fazem muitas promessas.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Entrevista à Saia da Carolina - "Sou saia de uma só pessoa"

Diário de Fictícias – Olhe desculpe… por favor… com licença… Olhe, saia da frente que eu estou a trabalhar!
Saia –
Eu até saía mas depois não tinha entrevistado...

DF – Ah, peço imensa desculpa, mas não reparei… Está muito diferente desde a última vez que a vi…
Saia –
Sim, a minha vida sofreu algumas alterações. E é por isso que convoquei esta conferência de imprensa, para mostrar ao país, e também ao mundo, que eu sou saia de uma só pessoa.

DF – Como assim? Sinceramente não estou a perceber…
Saia –
O meu nome, hoje em dia, anda na boca de toda a gente. Não vamos mais longe, há bocadinho você empurrou-me, “Saia da frente!”. Na televisão utilizam-me até ao esgotamento, coitadinha da Floribella. Para não dar outros exemplos! Mas eu, em exclusivo para o Diário de Fictícias, venho dizer, publicamente, que sou saia de uma só pessoa! E essa pessoa é a Carolina!

DF – A Carolina? Não estou a ver quem seja…
Saia –
Não sabe quem é a Carolina? Onde está a sua cultura literária e musical? Uma excelente dançarina como ela e não sabe… Sinceramente…

DF – Não me diga que está a falar “daquela” Carolina…
Saia –
Não se lembra da Carolina? “A saia da Carolina tem um lagarto pintado, sim Carolina ó i ó ai, não Carolina ó ai meu bem”. E a saia sou eu, mas não era verdadeiramente um lagarto que eu tinha pintado, era mais um camaleão, mudo facilmente de cor.

DF – Confundi com outra Carolina que, por acaso, também tinha um animal, mas fantasioso…
Saia –
Ah, estou a ver… Aliás, tinha dois: um pinto e um outro que cuspia muito fogo, mas parece que agora se anda a queimar. Enfim, quem brinca com o fogo queima-se, não é verdade?

DF – E o que tem a dizer da Rosa?
Saia –
Desde já lhe digo que não irei divulgar a minha preferência política! Tanto posso ser rosa, como laranja, azul ou até encarnada.

DF – Não é isso… Estou a falar da Rosa pessoa…
Saia –
Ah sim, a Rosa. Peço desculpa mas agora eu é que fiquei confusa. Já não bastava a Rosa que só me arredondava, arredondava… Todos os dias andava tonta, por essa razão é que decidi dar o direito de exclusividade à Carolina.

DF – Quais são os objectivos futuros?
Saia –
O meu maior desejo é ser reconhecida na rua como a saia que, não só tapou as pernas, como também os olhos de muita gente. O apito final ainda está longe, mas quando chegar a altura, espero fechar este ciclo com chave de ouro.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Fic Notícias - Cartas ao Pai Natal

Em todo o lado se ouvem os cânticos de Natal, as ruas vestem-se de cores vivas para chamar a atenção de quem nelas passeia e as luzes brilham fazendo das noites dias luminosos. As crianças, junto à lareira, pegam numa caneta e num pedaço de papel e escrevem os seus sonhos para enviar para o Senhor das Barbas Brancas. Mas não só as crianças o fazem, também muitos adultos, e alguns, bem conhecidos por todos nós.

Fátima Felgueiras:
“Oi cara, você me pode trazer o que quiser mas, em vez de ser num saco encarnado, preferia que as prendas viessem num saco azul.”

Floribella:
“Olá Pai Natalzinho! Eu queria que as crianças fossem muito felizes e que houvesse paz no mundo. Eu sou muito pobrezinha, super-hiper-mega-ri-pobrezinha e o meu principezinho não gosta de mim…”

Teixeira dos Santos:
“Vamos cá ver, o shôr Nicolau anda de país em país no seu trenó e não paga os seus impostos? Quanto às renas, tem licença para andar com elas? Venham daí esses euritos.”

Pinto da Costa:
“Estou a escreber-te esta carta para entregares algumas prendas a estes senhores de negro. Para mim não quero nada porque nunca me dei muito bem com indibíduos de bermelho. Penso eu de que….”

Papa Bento XVI:
“Eu gostava que me oferecesses um barrete igual ao teu. É que eu já dei um quando “declarei guerra” aos muçulmanos.”

Luís Filipe Vieira:
“Camarada Pai Natal! Como prenda queria um bom treinador. E, já agora, como grande benfiquista que o senhor é, vai-me comprar um kit de sócio do Glorioso. E as suas renas e os seus duendes também porque eu sei, e toda a gente sabe, que o Benfica é também o Maior do Mundo Imaginário.”

Poesia - Quadras de um País

Depois de semanas inquietas
Em que tudo se contestou
Decidimos fazer de poetas
E escrever o que se passou.

Os estudantes fecham a escola
Criticam a governação
Preferem jogar à bola
A ter aulas de substituição.

A temperatura está alterada
Balança entre o calor e o frio
Metade do país está alagada
Outra passeia no Rossio.

Há números que fazem sonhar
E outros que nem queremos ver
Os primeiros permitem viajar
E os últimos sobreviver.

E o nosso rico futebol
Segue o seu itinerário
Faça chuva ou faça sol
É comandado pelo empresário.

E para quem gosta de dançar
E fazer as coisas à sua maneira
Nada melhor que arranjar par
Para um bailinho da Madeira.

Tudo o que acima foi escrito
É o retrato desta Nação
Que deseja sempre o infinito
Mas nunca tira os pés do chão.