Entrevista a uma cadeira da Assembleia da República
Confortável, macia, conversadora e simpática; é assim a cadeira da Assembleia da República (CAR) que concedeu uma breve entrevista ao nosso jornal.
DF: Qual é a sua função e onde trabalha?
CAR: Eu sou uma cadeira que trabalha na Assembleia da República, no parlamento português. Tenho por função proporcionar bem-estar aos deputados durante as suas reuniões.
DF: Como é o seu dia-a-dia?
CAR: De manhã sou acordada ao som do Hino Nacional. Logo de seguida, várias empregadas de limpeza passam cerca de uma hora a arrumar a Assembleia. Da parte da tarde, há reuniões com leis a aprovar e questões a debater. Ao fim do dia, apagam-se as luzes e dormimos.
DF: Qual é o seu horário laboral?
CAR: Eu tenho uma grande flexibilidade nesse aspecto. Apesar de haver uma escala com os horários estipulados, raramente é cumprido. Nós, as cadeiras, não temos para onde ir nos períodos mortos, somos obrigadas a ficar naquela sala enorme. Os deputados quase nunca chegam a horas e, quando chegam, são raros os que aquecem o lugar. Mas também há aqueles que aproveitam para descansar um bocadito os olhos. Tenho colegas de trabalho que sofrem muito com as diferenças de temperatura. Estando sempre descobertas, basta uma corrente de ar para ficarem logo constipadas. No que diz respeito a férias, posso dizer que temos alguma facilidade, pois são raras as vezes em que a Assembleia se encontra cheia.
DF: Já teve algum acidente de trabalho?
CAR: Felizmente apenas um. Estava a descer as escadas do Parlamento, escorreguei e parti uma perna. Como seria de esperar, durante dois meses tornei-me numa cadeira de rodas…
DF: Como são os seus colegas?
CAR: As outras cadeiras do Parlamento são cadeiras simpáticas e muitas vezes falamos sobre os assuntos em destaque nas discussões parlamentares. Conhecemo-nos há décadas. Os deputados é que variam, normalmente, de 4 em 4 anos. Cada partido tem os seus lugares marcados, mas as pessoas raramente são as mesmas durante muito tempo. Até na forma de sentar são diferentes: uns sentam-se mais à direita, outros mais à esquerda, e outros nem se sentam de um lado nem do outro, depende da maré… (risos)
DF: Gosta daquilo que faz?
CAR: Gosto muito do meu trabalho. Conheço, de antemão, os problemas do nosso País, e as soluções que cada grupo parlamentar apresenta para os resolver. Por outro lado, divirto-me muito com algumas propostas apresentadas. Há dias em que até me chega a doer a almofada de tanto rir.
DF: Que caminho percorreu antes de chegar aqui?
CAR: O tradicional. Fui cadeirinha de bebé, passei pela escola primária, concluí o Ensino Básico e o Secundário. Essa altura da minha vida foi muito complicada pois tinha duas opções: ou ia para cadeira do Estádio Alvalade XXI, a convite de um conhecido do meu pai, ou iria para a Universidade. Decidi-me pelo curso superior. Foi a melhor escolha; se fosse para o Estádio do Sporting provavelmente teria que mudar de visual (mudar de cor) e talvez ficasse atrás de um placard que me impediria de ver os jogos… Terminada a minha licenciatura, fui estagiar como cadeira de escritório para o gabinete do Primeiro Ministro da altura, e, devido ao meu carácter, também à qualidade da minha pele, três anos depois fui proposta para cadeira do Parlamento. E aqui estou, a minha profissão resume-se à Assembleia da República.
DF: Que objectivos pretende alcançar?
CAR: Bem, a minha principal meta como cadeira é a Europa, ou seja, ser cadeira do Parlamento Europeu. Todos nós sabemos que aqui em Portugal o campeonato não é muito competitivo, só há duas equipas grandes. Na Europa tudo é diferente, a visibilidade a que estou sujeita é muito maior.
DF: Tem alguma cadeira que admire?
CAR: Sim, admiro muito a minha falecida avó, que arriscou imenso em prol da democracia. Foi a última cadeira em que Salazar se sentou, lembra-se, não se lembra? Uma heroína, a senhora...
DF: Qual é a sua função e onde trabalha?
CAR: Eu sou uma cadeira que trabalha na Assembleia da República, no parlamento português. Tenho por função proporcionar bem-estar aos deputados durante as suas reuniões.
DF: Como é o seu dia-a-dia?
CAR: De manhã sou acordada ao som do Hino Nacional. Logo de seguida, várias empregadas de limpeza passam cerca de uma hora a arrumar a Assembleia. Da parte da tarde, há reuniões com leis a aprovar e questões a debater. Ao fim do dia, apagam-se as luzes e dormimos.
DF: Qual é o seu horário laboral?
CAR: Eu tenho uma grande flexibilidade nesse aspecto. Apesar de haver uma escala com os horários estipulados, raramente é cumprido. Nós, as cadeiras, não temos para onde ir nos períodos mortos, somos obrigadas a ficar naquela sala enorme. Os deputados quase nunca chegam a horas e, quando chegam, são raros os que aquecem o lugar. Mas também há aqueles que aproveitam para descansar um bocadito os olhos. Tenho colegas de trabalho que sofrem muito com as diferenças de temperatura. Estando sempre descobertas, basta uma corrente de ar para ficarem logo constipadas. No que diz respeito a férias, posso dizer que temos alguma facilidade, pois são raras as vezes em que a Assembleia se encontra cheia.
DF: Já teve algum acidente de trabalho?
CAR: Felizmente apenas um. Estava a descer as escadas do Parlamento, escorreguei e parti uma perna. Como seria de esperar, durante dois meses tornei-me numa cadeira de rodas…
DF: Como são os seus colegas?
CAR: As outras cadeiras do Parlamento são cadeiras simpáticas e muitas vezes falamos sobre os assuntos em destaque nas discussões parlamentares. Conhecemo-nos há décadas. Os deputados é que variam, normalmente, de 4 em 4 anos. Cada partido tem os seus lugares marcados, mas as pessoas raramente são as mesmas durante muito tempo. Até na forma de sentar são diferentes: uns sentam-se mais à direita, outros mais à esquerda, e outros nem se sentam de um lado nem do outro, depende da maré… (risos)
DF: Gosta daquilo que faz?
CAR: Gosto muito do meu trabalho. Conheço, de antemão, os problemas do nosso País, e as soluções que cada grupo parlamentar apresenta para os resolver. Por outro lado, divirto-me muito com algumas propostas apresentadas. Há dias em que até me chega a doer a almofada de tanto rir.
DF: Que caminho percorreu antes de chegar aqui?
CAR: O tradicional. Fui cadeirinha de bebé, passei pela escola primária, concluí o Ensino Básico e o Secundário. Essa altura da minha vida foi muito complicada pois tinha duas opções: ou ia para cadeira do Estádio Alvalade XXI, a convite de um conhecido do meu pai, ou iria para a Universidade. Decidi-me pelo curso superior. Foi a melhor escolha; se fosse para o Estádio do Sporting provavelmente teria que mudar de visual (mudar de cor) e talvez ficasse atrás de um placard que me impediria de ver os jogos… Terminada a minha licenciatura, fui estagiar como cadeira de escritório para o gabinete do Primeiro Ministro da altura, e, devido ao meu carácter, também à qualidade da minha pele, três anos depois fui proposta para cadeira do Parlamento. E aqui estou, a minha profissão resume-se à Assembleia da República.
DF: Que objectivos pretende alcançar?
CAR: Bem, a minha principal meta como cadeira é a Europa, ou seja, ser cadeira do Parlamento Europeu. Todos nós sabemos que aqui em Portugal o campeonato não é muito competitivo, só há duas equipas grandes. Na Europa tudo é diferente, a visibilidade a que estou sujeita é muito maior.
DF: Tem alguma cadeira que admire?
CAR: Sim, admiro muito a minha falecida avó, que arriscou imenso em prol da democracia. Foi a última cadeira em que Salazar se sentou, lembra-se, não se lembra? Uma heroína, a senhora...
André Pereira
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