sexta-feira, março 09, 2007

OPA morre por falta de assistência

O hipnótico ruído da ambulância é cada vez mais audível. Encostados à porta de entrada, observamos com atenção e incredulidade os movimentos apressados dos homens de branco que saem da carrinha. A maca, muitas vezes vazia, transporta um corpo difícil de identificar. Os 12 meses de viagem foram uma eternidade na curta vida do doente.

Diário de Fictícias – Boa noite, senhor doutor. Qual é a primeira avaliação que faz deste paciente?
Médico –
Para já não posso fazer nenhuma avaliação, uma vez que ainda não entrei ao serviço. Aliás, nem eu nem ninguém. Parece que o hospital se encontra encerrado.

DF – Encerrado? Como assim?
Médico –
Sim, parece que fechou para balanço. Contudo, o equilíbrio não é muito. As portas tiveram que ser trocadas pelas antigas, embora com um new look. Em relação ao paciente, foi sujeito a diversas acções, envolvendo material bélico, essencialmente granadas. Desconfiamos de um senhor perito em actos deste tipo. E, por acaso, tem um apelido que é coincide bastante com o tipo de material utilizado.

DF – O seu corpo encontra-se bastante danificado, presumo…
Médico –
De facto, estou algo debilitado. Estes cigarros matam-me. Espero que não transformem este hospital numa discoteca, caso contrário não poderei cá voltar. Aliás, pouco falta: inúmeras pessoas alteradas física ou psicologicamente, vivendo momentos de euforia e dançando ao som da bela música das ambulâncias. Até tem um consumo mínimo! Só falta mesmo é o segurança a seleccionar os clientes.

DF – Referia-me ao corpo do paciente. Mas o doutor não deveria fumar. Não está a dar um bom exemplo às pessoas.
Médico –
Vou ter de me ausentar. Tenho trabalho a fazer.

DF – Mas o hospital continua fechado…
Médico –
Desculpe, mas o tabaco não provoca apenas as doenças que conhecemos. Há outra que é talvez a mais grave e ninguém trata: a surdez.

DF – Como? Não entendi o que disse…
Médico –
Vê?! Você não fuma (nunca vi um jornal a fumar) e é afectado pelo tabaco da mesma forma que eu. Talvez seja por isso que foi criada esta nova lei.

DF – E o paciente? Ainda há esperança?
Médico –
Sinceramente ainda não temos a certeza. Para já, será enviado para aquele compartimento frio, onde será examinado por vários colegas. Mas, como vivemos num mundo de constantes mudanças, pode ser que amanhã volte ao mundo dos vivos.

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