terça-feira, maio 30, 2006

"Temos sido roubados"


Adalberto Júnior, jogador profissional do SFC (Só Futebol Clube) aceitou conceder uma entrevista ao Diário de Fictícias, com o intuito de “esclarecer o que se passa no mundo do futebol”.

DF: Adalberto, qual é o seu estado de espírito neste momento?
AJ
: (enquanto limpa o suor da testa) Foi um jogo limpo, valeu pelos três pontos, acho que merecemos ganhar e vamos agora pensar no próximo jogo, que é já no próximo domingo.

DF: Não me referia ao seu sentimento após o jogo de ontem, mas sim ao que sente quando vê o seu nome envolvido neste caso de polícia?
AJ
: (atrapalhado) Claro, claro… Apenas estava a ensaiar. É claro que me sinto apreensivo e com o moral muito em baixo. Tenho a certeza que nada fiz para ter sido constituído arguido, mas espero que se faça justiça.

DF: O que pensa deste caso?
AJ: Este é claramente um caso que não aconteceu por mero acaso. Tudo se tem vindo a agravar desde a 8ª jornada. Desde essa altura temos sido roubados…. Já fiquei sem três telemóveis, duas fitas para pôr no cabelo, seis brincos e até já fiquei sem uma tatuagem que tinha no braço a dizer “Amor de Mãe”. Imagine os meus colegas… Ninguém me tira da cabeça que o senhor árbitro, durante o jogo e sem darmos por isso, mete a mão nos nossos bolsos e tira o que pode.

DF: Tem a noção que é uma acusação muito grave, apelidar o árbitro de “senhor”…
AJ: Sim, mas assumo todas as minhas responsabilidades pelo que disse. Às vezes reconheço que me exalto e depois excedo-me quer no tom de voz quer nas palavras que utilizo… (Agora já sem camisola) Como capitão desta equipa afirmo que no próximo jogo não cometeremos qualquer tipo de falta.

DF: É uma forma de protesto?
AJ: Claro que sim. Todos nós sabemos que os árbitros, especialmente em Portugal, gostam muito de apitar. A razão para tal é que ninguém sabe. Mas eu digo, sem qualquer medo de represálias: o objectivo desses “senhores” é polir bem o apito para que este se torne cada vez mais dourado…

DF: Está a insinuar alguma coisa?
AJ: Hoje em dia, o arco-íris já não aparece muitas vezes, o céu torna-se cada vez mais azul…

DF: Alguma metáfora?
AJ
: Não sei, senti-me apertado na defesa e disseram para meter a bola fora “Mete fora, mete fora!”. Foi o que eu fiz. Por isso, acho que se pode considerar uma metáfora.

DF: Mudando de assunto, o Mundial de Futebol aproxima-se e o Adalberto não faz parte dos eleitos do seleccionador…
AJ
: Sim, fiquei muito desiludido com esta escolha até porque eu sou um jogador com muita qualidade. Acho que o mister não me escolheu porque eu costumo usar muitos brincos e falo com o sotaque do norte, carago. Mas ninguém morreu por isso.

DF: Contudo, o que deseja aos 23 jogadores que irão representar o seu país?
AJ
: Bem, já ganhámos várias vezes esta competição, por isso não vai ser muito difícil levarmos mais um troféu para casa, para depois desfilarmos no Bairro da Tijuca, ao som do samba!

DF: Eu referia-me à Selecção Portuguesa…
AJ
: Ah pois… O meu país do coração. Sim, adoro muito Portugal, o clima é fantástico, os portugueses são muito simpáticos. Somos o povo irmão. E, como é natural, espero encontrar Portugal na final… Quer dizer… Espero que Portugal vá à final!

DF: Que conselho dá aos seus fãs?
AJ
: Acima de tudo está o futebol, só depois vem a escola! Eu fiz assim e, graças a Deus, sou o que se vê!
André Pereira

quarta-feira, maio 24, 2006

Uma Entrevista a um Pincel


Numa tarde chuvosa de Domingo, um pincel recebeu-nos para uma entrevista no seu local de trabalho. Trata-se de um atelier, numa zona típica e pitoresca de Coimbra; um espaço artístico intensamente vivido, onde as obras tomam conta do local e dos visitantes. A conversa sucedeu-se nervosamente, evidenciando alguém pouco habituado a entrevistas.


DF - Esta sua fase, pode ser considerada como uma ruptura ou uma evolução em relação aos seus anteriores trabalhos?
Pincel
- É uma evolução, uma continuação... O meu processo, é uma análise tendo sempre em vista o que acontece à minha volta; por outro lado, desde o príncipio tenho vindo a construir uma linguagem através de sinais e códigos, que vai evoluindo ao longo dos anos e isso é bem patente durante o período em que estive em África. E, mais tarde, à medida que as coisas foram, normalmente, acontecendo e eu tive outro tipo de contactos, nomeadamente na Europa com outros autores fui também construindo uma linguagem própria a partir do que ia captando. Em relação ao México o processo é semelhante: tive, igualmente, um contacto muito profundo com a cultura mexicana, quer com a arte, quer com a arqueologia e a história e apropriei-me de uma série de sinais que introduzi na minha própria linguagem. Portanto, o processo continua, com novos elementos.


DF - Mas em relação à cor, ela continua a ser fundamental e uma constante em toda a sua obra.
Pincel
- Sim, a cor continua a ser importante, embora nestes trabalhos tenha introduzido prateados e dourados, que já utilizava.


DF - O que é que gosta mais de criar? Quadros ou esculturas?
Pincel
- É indiferente, depende, tenho fases. Neste momento estou a pintar mais, mas não quer dizer que, de um momento para o outro, pare.


DF - E no que diz respeito às outras actividades que mantém paralelamente, como coçar as costas e fazer cócegas...
Pincel
- Não são, nem de perto nem de longe, a minha actividade principal. São actividades secundárias que faço só em ocasiões muito especiais, porque, ao fazê-las, interrompo o meu processo criativo.


DF - Acha que é mais conhecido nacional ou internacionalmente?
Pincel
- Na realidade, tenho divulgado mais a minha obra lá fora do que aqui em Portugal. Nunca quis que o meu trabalho morresse nas paredes das casas dos portugueses. Como não há grande tradição cultural nem artística no nosso país, logo também não há tradição de pintura. Por isso, uma obra apenas conhecida em Portugal é menos visível do que se fosse conhecida internacionalmente. Portanto, sempre desejei que a minha obra fosse conhecida no estrangeiro. Aliás, é facilmente perceptível que os meus trabalhos não têm nada a ver com os fenómenos folclóricos portugueses. Têm uma linguagem que tanto é perceptível em Portugal como em outro país qualquer. Não vive o aperto de um provincianismo português.


DF - Mas não sente que, ultimamente, os nossos tugas despertaram para a sua pintura?
Pincel
- Em Portugal, há uma barreira difícil de transpor que é a do provincianismo, ou então a barreira daqueles que, à partida, pretendem anular os que se vão evidenciando. É um jogo de intrigas e ciúmes que obrigam o pincel de renome como eu a sair e pintar lá fora. Ao menos assim é difícil voltar a estrangular o leque de opções que se abrem quando se inicia uma carreira internacional.


DF - O gosto pelo seu trabalho é algo que se renova ou é já uma obsessão?
Pincel
- O facto de ter uma disciplina de trabalho e estar quase sempre no atelier não significa que esteja sempre a produzir novas coisas. Vou produzindo pequenas coisas e preparando novas obras, muitas vezes em busca de inspiração, porque há alturas em que, pura e simplesmente, não consigo produzir nada. Não estou inspirado, nem com criatividade, mas são dias que não posso perder e, portanto, há outro género de trabalhos que posso fazer. Um pincel tem que estar tecnicamente preparado e apetrechado para que, quando surja essa inspiração, se possa dar vazão a esses momentos mais profícuos. Logo, a disciplina é extremamente importante num trabalho como este. Quanto mais se trabalha, mais se aperfeiçoa e mais se melhora o produto final, principalmente a sua vertente técnica.. Por isso, aqueles que não têm uma personalidade vincada e uma mão criadora na sua obra são facilmente detectáveis.


DF - E em relação ao futuro?
Pincel
- Vou trabalhando nos meus projectos, vou evoluindo e desenvolvendo o meu trabalho, o que aliás objectivo desde sempre. Os meus pêlos são de cedro são fortes e vigorosos, tenho a certeza que não me vão deixar ficar mal.


DF - Para terminar, gostaria de saber a sua opinião sobre as novas tecnologias de pintura por computador.
Pincel
- Em primeiro lugar, digo-lhe que estou muito pouco informado sobre esse fenómeno. Tanto quanto sei, é um processo até simples, desde que se disponha de um computador. No fundo, é como dispor de uma máquina que executa.. Mas eu não tenho preocupações o traço que um pincel deixa é marcante


DF - Mas o que é que acha que serão as consequências disso no futuro? Alinha no cepticismo daqueles que temem que a pintura informática fará com que as pessoas deixem de apreciar a arte manual!
Pincel
- Acho que não. Eu, por exemplo, tenho um amigo computador com o qual nunca tive grandes realções pois não estou interessado nisso. Continuo a trabalhar pelas viasque sempre trabalhei. Sei que há artistas que usam o computador para trabalhar, mas tenho sistemas adaptados ao meu processo que me permitam resolver rapidamente as coisas. Ainda não pensei a sério na questão dos computadores. Contudo, acho que para quem gosta que faça bom proveito.


DF - Muito Obrigado Sr Pincel.
Ivan Costa

"A Culpa é dos Fantasmas!"


Dona Propina não compreende os protestos dos estudantes. Mostra-se contra os alunos-fantasma, quer que os calões paguem a crise e anuncia reforma daqui a dois anos.

DF - Bom dia. Que comentários faz ao protesto dos estudantes?
Dona Propina
– Em meu entender não se justificam.


DF - Mas os estudantes queixam-se de que muitos vão deixar de poder pagar as propinas, que passaremos a ter um ensino superior elitista a que só os ricos terão acesso.
Dona Propina
- Só os ricos? Sabe quanto dinheiro é que os nossos estudantes pobres gastam por mês em telemóvel, cigarros e copos?


DF – Sinceramente não sei.
Dona Propina
- Eu também não. Mas tenho a certeza que ultrapassa largamente o valor mensal das propinas. Muitos dos nossos estudantes, bem feitas as contas, não sabem verdadeiramente o que significa ser pobre.


DF - Mas os estudantes protestam de norte a sul...
Dona Propina
- Uma prova cabal de que as propinas são baratas é o elevado número de alunos-fantasma, estudantes que pagam as propinas mas que nunca põem os pés na universidade, nunca vão às aulas e nunca aparecem aos exames. Nós temos cerca de 50% desses fantasmas. Deitam o dinheiro das propinas para o lixo. Isso é uma prova evidente de que as propinas são baratas.


DF - Não admite que haja estudantes com dificuldades para pagar?
Dona Propina
– É capaz de haver alguns. Mas repare que as propinas representam aproximadamente 10 a 15% das despesas mensais de um estudante. Por outras palavras: não é o facto de as propinas passarem para 50 euros por mês que vai fazer com que só os ricos possam estudar. Infelizmente, aqueles que são realmente pobres têm poucas hipóteses de estudar, com ou sem propinas.


DF - O aumento pecou por escasso, é isso?
Dona Propina
- O valor das propinas após o aumento continua a ser simbólico, dá para as despesas correntes da universidade. Quase nada desse dinheiro é usado para melhorar substancialmente o ensino universitário. A questão essencial é decidir se o ensino superior deve ser um direito universal, assegurado na íntegra pelo Estado. Na minha opinião, nem todos deveriam ter acesso gratuito ao ensino superior. O Estado só deveria subsidiar o ensino superior àqueles que merecem.


DF - E quem é que merece?
Dona Propina
- São aqueles que estudam. Os que andam na vadiagem vão embora, ou então pagam o preço real do ensino superior.


DF - E como é que isso poderia ser feito?
Dona Propina
- Por exemplo: os estudantes com média superior a 16 não só não pagariam as propinas, como receberiam um subsídio mensal do Estado de 500 euros; com média entre 14 e 16 ficariam isentos de propinas, recebendo um subsídio mensal de 250 euros; e por aí adiante. Os que chumbam sistematicamente teriam de pagar os custos reais do ensino superior público. Seria uma espécie de medida à Robin dos Bosques. A diferença é que em vez de tirar aos ricos para dar aos pobres, tiramos aos calões para dar aos que estudam.


DF - Não receia que as universidades fiquem com muito poucos alunos?
Dona Propina
- Infelizmente sim.


DF - E havendo poucos alunos, ficava com professores a mais, certo?
Dona Propina
- Infelizmente sim.


DF - E se calhar a senhora ficava sem emprego.
Dona Propina
– De maneira nenhuma. Eu estou no ensino superior em comissão de serviço, pertenço aos quadros do Ministério das Finanças. E digo-lhe mais, já começo a ficar farta disto. Mais dois anitos peço a reforma, quem vier depois de mim que feche a porta ou então consiga verbas para aguentar o funcionamento do sistema. E
agora vá mas é estudar…

Ana Brites

sexta-feira, maio 19, 2006

"A minha meta é o Parlamento Europeu"


Entrevista a uma cadeira da Assembleia da República


Confortável, macia, conversadora e simpática; é assim a cadeira da Assembleia da República (CAR) que concedeu uma breve entrevista ao nosso jornal.

DF: Qual é a sua função e onde trabalha?
CAR:
Eu sou uma cadeira que trabalha na Assembleia da República, no parlamento português. Tenho por função proporcionar bem-estar aos deputados durante as suas reuniões.

DF: Como é o seu dia-a-dia?
CAR
: De manhã sou acordada ao som do Hino Nacional. Logo de seguida, várias empregadas de limpeza passam cerca de uma hora a arrumar a Assembleia. Da parte da tarde, há reuniões com leis a aprovar e questões a debater. Ao fim do dia, apagam-se as luzes e dormimos.

DF: Qual é o seu horário laboral?
CAR:
Eu tenho uma grande flexibilidade nesse aspecto. Apesar de haver uma escala com os horários estipulados, raramente é cumprido. Nós, as cadeiras, não temos para onde ir nos períodos mortos, somos obrigadas a ficar naquela sala enorme. Os deputados quase nunca chegam a horas e, quando chegam, são raros os que aquecem o lugar. Mas também há aqueles que aproveitam para descansar um bocadito os olhos. Tenho colegas de trabalho que sofrem muito com as diferenças de temperatura. Estando sempre descobertas, basta uma corrente de ar para ficarem logo constipadas. No que diz respeito a férias, posso dizer que temos alguma facilidade, pois são raras as vezes em que a Assembleia se encontra cheia.

DF: Já teve algum acidente de trabalho?
CAR:
Felizmente apenas um. Estava a descer as escadas do Parlamento, escorreguei e parti uma perna. Como seria de esperar, durante dois meses tornei-me numa cadeira de rodas…

DF: Como são os seus colegas?
CAR:
As outras cadeiras do Parlamento são cadeiras simpáticas e muitas vezes falamos sobre os assuntos em destaque nas discussões parlamentares. Conhecemo-nos há décadas. Os deputados é que variam, normalmente, de 4 em 4 anos. Cada partido tem os seus lugares marcados, mas as pessoas raramente são as mesmas durante muito tempo. Até na forma de sentar são diferentes: uns sentam-se mais à direita, outros mais à esquerda, e outros nem se sentam de um lado nem do outro, depende da maré… (risos)

DF: Gosta daquilo que faz?
CAR:
Gosto muito do meu trabalho. Conheço, de antemão, os problemas do nosso País, e as soluções que cada grupo parlamentar apresenta para os resolver. Por outro lado, divirto-me muito com algumas propostas apresentadas. Há dias em que até me chega a doer a almofada de tanto rir.

DF: Que caminho percorreu antes de chegar aqui?
CAR:
O tradicional. Fui cadeirinha de bebé, passei pela escola primária, concluí o Ensino Básico e o Secundário. Essa altura da minha vida foi muito complicada pois tinha duas opções: ou ia para cadeira do Estádio Alvalade XXI, a convite de um conhecido do meu pai, ou iria para a Universidade. Decidi-me pelo curso superior. Foi a melhor escolha; se fosse para o Estádio do Sporting provavelmente teria que mudar de visual (mudar de cor) e talvez ficasse atrás de um placard que me impediria de ver os jogos… Terminada a minha licenciatura, fui estagiar como cadeira de escritório para o gabinete do Primeiro Ministro da altura, e, devido ao meu carácter, também à qualidade da minha pele, três anos depois fui proposta para cadeira do Parlamento. E aqui estou, a minha profissão resume-se à Assembleia da República.

DF: Que objectivos pretende alcançar?
CAR:
Bem, a minha principal meta como cadeira é a Europa, ou seja, ser cadeira do Parlamento Europeu. Todos nós sabemos que aqui em Portugal o campeonato não é muito competitivo, só há duas equipas grandes. Na Europa tudo é diferente, a visibilidade a que estou sujeita é muito maior.

DF: Tem alguma cadeira que admire?
CAR:
Sim, admiro muito a minha falecida avó, que arriscou imenso em prol da democracia. Foi a última cadeira em que Salazar se sentou, lembra-se, não se lembra? Uma heroína, a senhora...
André Pereira